E 0 AÏ KI DO
CAPITULO X
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1. 0 TAÏ CHI CHUAN
Histórica e
geograficamente, o Taï Chi Chuan situa se entre a Ioga indiana (e
tibetana) e o Zen japonês com sua aplicação em técnicas de combate.
Aparentemente trata se de uma dança (muito agradável aos olhos, muito
estética); mas a profundidade de sua origem afasta a de qualquer
superficialidade ou mundanismo: é ação centrada no vazio incomensurável dó Não Agir
do Ser em sua essência, segundo a filosofia do Tao. É tão pouco ginástica
quanto a Hatha Ioga real ou o método Mézière. Entretanto nela se impõe a
necessidade de corresponder a uma perfeição, de enquadrar o movimento, a respiração, a energia e o peso. Paradoxalmente,
esse método de relaxamento em movimento implica esforços, tensões no começo da
prática; ou melhor, implica a consciência da utilização, para obter a perfeição,
de tensões e esforços que lhe são contrários.
0 projeto é harmonizar os três mundos:
o mundo do alto (mental);
o mundo do sentimento;
o mundo de baixo (enraizamento vital),
Procura se portanto unificar esses três setores,
e encontrar assim um melhor equilíbrio psicossomático, uma certa alegria de
viver, uma livre circulação de energia[1]
em um corpo relaxado. Trata se[2]
ao mesmo tempo de uma autodefesa, de uma meditação em movimento, de uma técnica
muito precisa de respiração e de sua integração à ação. Esta última se realiza
em torno do verdadeiro centro de
gravidade do corpo, ao nível do que os chineses chamam "tan tien"
e os japoneses "Hara[3]",
um pouco abaixo do umbigo.
No Taï Chi Chuan não
existe imobilidade do corpo, assim como na natureza não existe rigidez na
mudança[4].
Esta referência à natureza não remete a Rousseau; o Taï Chi Chuan refere se
a uma analogia entre o microcosmo (o organismo humano) e o macrocosmo (o
Universo), e pretende que essa analogia é baseada na realidade. 0 ditado:
“comparar não é provar" vem refutar esse conceito na medida em que ele
pretende assumir foros de verdade científica. Entretanto, parece me
necessário analisar melhor o problema; talvez se deva admitir que, pelo menos
para o adepto participante, essa analogia age de maneira não consciente. Em
outras palavras, ela teria validade no plano epistemológico, mas não no plano
do objeto de conhecimento. Sendo assim, harmonizar com a energia e a gravidade
os três planos de nosso ser não teria conseqüências cósmicas, mas poderia ser
válido em relação ao nosso conhecimento individual do mundo.
Em linhas gerais, os
efeitos do Taï Chi Chuan são comparáveis aos da Hatha Ioga; Ch. Antoni[5]
cita: sensação de bem estar físico, total relaxamento muscular, grande
flexibilidade articular, melhor funcionamento endócrino e neurovegetativo (e
portanto melhor estado de saúde), tranqüilidade e maior concentração mental. 0
conjunto das doenças que afetam ao mesmo tempo o corpo e o espírito poderia ser
influenciado.
Além disso, o Taï Chi
Chuan (como a Ioga correta), ao evitar (tomando impossível) a flutuação da
consciência (pois impõe constante atenção ao exercício), é uma excelente escola
de concentração descentração[6].
Dessa forma ele evita a angústia de despersonalização, e até mesmo alucinações
e delírio.
0 Taï Chi Chuan implica
consciência de cada movimento do corpo, em um total "aqui e agora".
Porém ele evita a fixação rígida sobre o ato a ser realizado. Trata se de
algo "que é necessário experimentar". Falar mais sobre ele seria um
atrevimento.
2. 0 AÏ KI DO[7]
Esta arte marcial relativamente moderna assemelha se ao Taï
Chi Chuan, no essencial e em muitos detalhes. Parece me porém menos
"despojada", menos austera quanto aos seus, objetivos.
[1] Na índia, chama se Prana; na China “Chi”; no Japão “Ki”. Reich utiliza a palavra "Orgônio".
[2] Coletiva Taï Chi Chuan, Maloine, 1974.
[3] K. von DURKHEIM, Hara, centre vital de l’homme, La Colombe, Paris, 1964.
[4] YI KING, Le livre des transformations, Médicis, 1974.
[5] CH. ANTONI, Taï Chi Chuan, Epi, 1977.
[6] B. AURIOL, Yoga et Psychothérapie, Privat, 1977.