A MEDITAÇÃO TRANSCENDENTAL E A TÉCNICA DE BENSON

CAPITULO IX

Dr Bernard Auriol

 



 

1. A MEDITAÇÃO TRANSCENDENTAL

 

Esta técnica, largamente divulgada nos EUA e no Canadá, começa a se difundir pela África, Europa e Ásia. É originária da índia, onde Maharishi Mahesh Yogi foi formado em uma antiga tradição de "Mantra Ioga" pelo Guru Dev.

A Mantra Ioga consiste em repetir mentalmente, com os olhos fecha­dos, um som sem valor semântico. A tradição da Ioga insiste sobre o impacto específico dos diferentes sons que agem em um nível ou outro, segundo sua estrutura de freqüência. A escolha do Mantra é efetuada pelo instrutor entre uma série de sons que lhe foram transmitidos, e valendo se de alguns dados simples (sexo, idade, experiências anteriores) e da intuição. 0 cliente é convidado a repetir interiormente este som, sem o pronunciar, duas vezes por dia, em sessões de quinze a 20 minutos. Dia após dia o som muda, no sentido de que ele se afina, torna se cada vez mais sutil. Pode se comparar esta evolução a uma espécie de polimento espontâneo.

 

a. Efeitos fisiológicos

 

Os efeitos desta técnica simples são muito semelhantes aos que ocorrem em outros modos de relaxamento. No entanto, são obtidos mais rapida­mente (muitas vezes em menos de quinze dias) e claramente mais acentuados e constantes. Observa se:

 redução das necessidades de oxigênio com redução do metabolismo básico(1);

 redução do ritmo respiratório (2) ;

 importante aumento da condutibilidade específica de ar pelos brôn­quios (inclusive nos asmáticos) (3).

Com o passar do tempo a diminuição do ritmo respiratório se estabiliza, e ocorre independentemente das sessões de meditação(4).

Observa se também uma redução do débito cardíaco (5) durante a sessão (devido à redução das necessidades de oxigênio), uma redução progressiva e benéfica do ritmo cardíaco durante e fora das sessões (4). Quanto à composição do sangue, constata se uma notável queda da quantidade de ácido lático (6) (cf. também nota 1). Essa substância é indício de trabalho muscular com insuficiência de oxigênio. Costuma aumentar na fadiga muscular, na ansiedade e na hiperpnéia. 0 débito sangüíneo no antebraço (e provavel­mente em outras massas musculares) aumenta de maneira notável (7), bem como a temperatura da pele. Tudo isso vem demonstrar um grande rela­xamento muscular e vascular.

A resistência da pele à passagem da corrente elétrica diminui conforme a ansiedade do indivíduo. Esta observação é que deu origem aos aparelhos “detetores de mentira”. Ao contrário, durante a sessão de M.T. a resistência eletrodérmica passa de um valor inferior a 100 quilo ohms para valores ele­vados próximos de 300 quilo ohms em média. Aliás, essa resistência eletro­dérmica torna se mais estável mesmo fora das sessões de meditação; isto é indício de um melhor equilíbrio neurovegetativo (8).

0 registro das ondas elétricas do cérebro (E.E.G.) mostra que a M.T. leva rapidamente a um estado de consciência especial que pode ser com­parado ao estado de meditação Zen, a alguns estados de oração cristã ou às outras técnicas da Ioga. Provavelmente também está Próximo do que se observa na fase das “Imagens místicas” do R.E.D.D., dos momentos

felizes de uma sessão de Rebirth e do estado autógeno profundo. E, pelo contrário, distingue se dos estados de transe e da consciência psicodélica a que foi ocasionalmente comparado. Wallace propôs chamá lo de Quarto estado da consciência, na medida em que o relaxamento consciente (mus­cular, neurovegetativo, cerebral e subjetivo) atinge um tal grau que se deve distingui lo ao mesmo tempo do sono (ele é consciente), do estado de vigília (onde não há um verdadeiro repouso), do sonho (ao qual se opõe ponto por ponto, exceto em que poderia ter como ele uni papel de destaque no equilíbrio psicológico). Este estado se caracteriza por um efeito de coerência no eletroencefalograma (E.E.G.), demonstrado graças à análise de fre­qüência (de Fourier) em computador. Observa se:

 

        uma intensificação do ritmo alfa (aumento da amplitude), que tende:                      

        a invadir todo o couro cabeludo;

        a persistir, apesar das estimulações parasitas de intensidade média e da abertura dos olhos;

        a se pôr em fase (ou seja, as células, em vez de pulsarem cada uma à sua maneira, adotam um mesmo ritmo em conjunto).          

Surgem ondas teta durante a experiência subjetiva de bem aventurança. Nos mais avançados, nota se uma sincronização das ondas rápidas beta (9).

Paty e Petit (cf. nota 9 g e h) demonstraram que a Variação Contin­gente Negativa (V.C.N.) era diminuída ou suprimida durante a medi­tação, o que traduz uma tal mudança de atitude mental que, em face de um condicionamento anterior, o sistema nervoso do indivíduo se comporta como se não tivesse sido condicionado. Assim se poderia explicar o efeito terapêutico da M.T.: ela possibilitaria o rompimento de um certo número de cadeias condicionadas (repetitivas ou em círculo vicioso) não conscientes ou pré conscientes.

 

b. Efeitos psicossomáticos

 

Wallace e Col. (8) demonstraram que a M.T. acarretava uma diminuição dos resfriados e das reações alérgicas. Sua prática baixa de maneira esta­tisticamente significativa a T.A. dos hipertensos (6). Nos asmáticos, a função respiratória tende para o normal (10). Repetidos depoimentos afirmam o valor da M.T. em um certo número de outras afecções (úlcera, cefaléia, insônia, hipersônia, etc.); mas, até 1977, tais casos ainda não haviam sido objeto de verificações estatísticas cientificamente conduzidas (11).

 

c. Efeitos psicológicos

 

A prática regular da M.T. favorece o que Maslow (12) chamou de "atua­lização de si", ou seja, o desabrochar harmonioso das faculdades (13). Nidich (14) e Hjelle  (15) demonstraram que havia nos meditadores um aumento de auto­nomia, de espontaneidade, de auto aceitação e auto respeito, melhor adap­tação temporal, maior capacidade de criar relações calorosas com o pró­ximo, e maior aceitação dos fenômenos de agressão (tais valores foram medidos no teste P.0.I.).

L.C. Doucette provou que havia uma redução da ansiedade manifesta nos meditadores, em relação a um grupo de controle formado de indivíduos que haviam aprendido uma técnica errônea de meditação (16). Os trabalhos de L. A. Hjelle (15) ", T. Fehr (17), Z. Lazar (18), D. Orme johnson (19) e P. C. Ferguson (20) caminham todos no mesmo sentido. Numerosas pesquisas (21), utilizando uma grande variedade de testes psicológicos e recorrendo à com­paração estatística entre meditadores e não meditadores, indicam que a M.T. praticada regularmente (todos os dias, duas vezes por dia) diminui todas as escalas de patologia mental e a contagem global das tendências neurótica, psicótica e psicossomática.

Pode se considerar, à luz desses estudos, que o quarto estado de cons­ciência (obtido graças à M.T., mas também, embora com menor facilidade e rapidez, através de outras técnicas) constitui um estado de recuperação,de expansão e de harmonização. Este estado talvez seja tão necessário ao equilíbrio biológico humano durante o dia, quanto o sonho o é durante a noite (22).

 

d. Efeitos sociológicos (23)

 

Alguns estudos demonstraram um fato curioso e excitante, embora totalmente inesperado: se num grupo humano um indivíduo em cem pratica a M.T. regularmente duas vezes por dia, a taxa de crimes, acidentes e doenças diminui significativamente do ponto de vista estatístico, em relação ao mesmo grupo humano antes que a porcentagem de meditadores atingisse esse 1 %. Isto foi verificado em várias dezenas de cidades (com um grupo de controle formado pelo mesmo número de cidades, e onde a M.T. não era praticada. No grupo de controle, a criminalidade aumentou). Poderíamos objetar que talvez se esteja tomando o efeito concomitante pela causa. Por exemplo, poderia ser que as cidades que "melhoraram" globalmente (com melhores leis, com uma imprensa melhor, etc.) tenham habitantes mais dispostos que os outros a praticar técnicas variadas de "busca interior", inclusive a M.T.

A única maneira de resolver esse problema é decidir, de antemão e ao acaso, em quais cidades se conseguirá a porcentagem de 1 % de medi­tadores através de uma propaganda intensiva, e quais cidades, onde não se fará publicidade da M.T., servirão de controle.,

Se após este procedimento os mesmos fatos forem observados, o efeito 1% (ou efeito Maharishi) estará definitivamente estabelecido. Dessa forma, a M.T. surgiria como uma técnica de relaxamento para os grupos humanos.

 

2. TÉCNICA DE BENSON

 

Ele se interessou pela M.T., em relação à qual realizou numerosas mensurações fisiológicas. Sua conclusão foi que a eficácia dessa técnica nada deve à natureza do Mantra, que seria importante somente por sua constância e monotonia. Propõe então que se repita em som qualquer, e sugere a palavra "one", que significa "um".

 

[A palavra "um" parece demasiado curta. Seria necessário es­colher outra; por exemplo, uni. Por outro lado, a natureza do som talvez tenha uma importância que não deve ser subes­timada. Segundo a, tradição, alguns sons poderiam até mesmo resultar em graves inconvenientes, desenvolvendo partes do ser que não se gostaria que tivessem predominância. Com efeito, cada som teria um parentesco psicológico com determinada zona do corpo e com um certo número de dados psíquicos. Eu, pessoalmente, já demonstrei que a capacidade de ouvir um som varia segundo as preferências dos indivíduos por determinados símbolos picturais oriundos da tradição tântrica. Quanto mais se prefere o símbolo do Chakra do baixo, menos sensível se é às freqüências sonoras elevadas (3.000 a 8 .000 hz)] (24)

 

Os quatro estados de consciência                                                              

 

                                                              

 

 

Estados de

consciência

Sono

Sonho

Vigília

Consciência

transcendental

1

Vigilância

( - )

( - )

( + )

( + )

2

Atividade

( - )

( + )

( + )

( - )

3

Nível de consciência

Nulo

Consciência

"ilusória"

Consciência de

conteúdos":

percepções

pensadas

Consciência pura

(sem conteúdo)

 

4

Papel funcional

Normalização

com relação

à fadiga fisiológica

Normalização

com relação

às frustrações

Atividade

motivada pela

realização dos

desejos

 

Integração fisiológica  e psicológica

máxima.

Estado de plenitude

                                                                                                                           

                                                            

Observa se um certo paralelismo entre a coerência do E.E.G. e o valor do nível de consciência. A mais altos níveis da consciência correspondem os níveis de inte­gração cerebral mais elevados. Pode se aventar a hipótese de que sonho e sono pre­parem a atividade ótima; esta última tem  por objetivo atingir a plenitude consciente (segundo D. ORME JOHNSON, Sc. Res. on T.M., op. cit., p. 682).

 

 

.

 

Benson demonstrou que sua técnica proporciona as mesmas modificações respiratórias e cardiovasculares que a M.T. Resta verificar a semelhança entre os efeitos cerebrais, especialmente os eletroencefalográficos.

Já levantei a hipótese (25) de que a repetição interna de um som não significante teria dois efeitos: um específico, de relaxamento orgânico, e o outro particular à natureza desse som (estimulação deste ou daquele conjunto macrometamérico, inclusive em suas implicações psico afetivas).

Concretamente, qual é a técnica de Benson (26)? Ela é extremamente simples, e exige somente o cumprimento regular (duas vezes por dia, durante 10 a 20 minutos) dos quatro pontos seguintes:

    1. ambiente calmo;
    2. repetição mental, incansável, de uma mesma palavra ou fórmula (por exemplo: "uni");
    3. atitude interior de passividade;
    4. posição confortável.

Chapitre précédentCapitulo                   capitulo Xsuite

 

 

 

NOTAS

 

1. R.K. WALLACE e H. BENSON, "The physiology of meditation", in Scientific

American, vol. 226, n.° 2, fev. 1972, pp. 84 90.

2. J. ALLISON, "Respiratory changes during the practice of the technique of     Transcendantal Meditation", in Lancet, 1970, n.° 7651, p. 833 e s.

3. P. COREY, "Airway conductance and oxygen consumption. Changes associated

with practice of the T.M. technique", in Scientific Research on the T.M. pro­gram, Collected Papers, vol.1, p. 6, pp. 94 107, M.E.R.U. Press, 1976.

4. T. ROUTT, "Low normal heart and respiration rates en practitioners of Transcendantal Meditation", in Scientific Research on T.M.: Collected Papers, vol. 1, ed. Orme Johnson e col., Nova York, M.E.R.U. Press, 1975.

5. R. WALLACE, The physiological effects of T.M., a proposed fourth major state

of consciousness, tese de Doutoramento em Fisiologia, Universidade da Califórnia, Los Angeles, 1972.

6. R. WALLACE e col., "A wakeful hypometabolic physiologic state", in American

J. of Physiol., 1971, vol. 221, n.° 3, pp. 795 e s.

7. H. REICHART, “Plethsmographische Untersuchungen bei Konzentrations und

Meditations Ubungen arliche Forsche” Artiche Forsch., 1967, vol. 21, pp. 61 65.

8. D. ORME JOHNSON, "Autonomic stability and Transcendantal Meditation", in

Psychosomatic Med., 1973, 35, 4, pp. 341 e s.

9.    a.  A. KASAMATSU e col., "An E.E.G. study of the Zen Meditation", in Altered      states of consciousness C.T. Tart, Nova York, Wiley and Son Inc. 1969, pp. 484-501.

b.  F. BROWN e col., "E.E.G. Kappa rhythms during T.M. and possible perceptual threshold changes following", com. à Kentucky Academy of Sciences, Richmond, 13 nov. 1971 e jan. 1972.

c. J. P. BANQUET, "E.E.G. and Meditation", in E.E.G. and clinical neurophysiol., 1972, vol. 33, pp. 449 458.

d. J. P. BANQUET e col., "Quantification E.E.G.. d’états de vigilance spontanés et induits", in Rev. d'E.E.G. neurophysiol., 1975, t. 5, n.° 3, pp. 237 e . s.

e. DAS e H. GASTAUT, "Variations de l'activité électrique du cerveau, du coeur et des muscles au cours de la méditacion et de l'extase yoguique", Electroenceph. Clin. Neurophysiol., 1957, suppl. 6, pp. 211 219.

f. P. ETEVENON e col., "Approche méthodologique des états de conscience

modifiés volontairement", Rev. E.E.G. Neurophysiol., 1973, 3, pp, 232 237.

g. J. PATY e col., "Modifications des potentiels évoqués et de Ia V.C.N. par

l'effet de M.T.", Trace, 1976, 7, 8, 73.

h. J. P. PETIT, Contribution à 1'étude physiologique des états de conscience; Ia

méditation transcendantale. Thése de 3.° ciclo em Odont., Bordéus II, 1977, Bergeret, Bordéus.

10. A. WILSON e col., "The effects of T.M. upon bronchial asthma", in Clinical

Research, 2, 1973, n.° 2.

11. H. BLOOMFIELD e col., La M.T. ou comment atteindre l’énergie intérieure,

Tchou, 1976.

12. A. MASLOW, Toward a psychology of being, Van Nostrand Co., Nova York,

1968.

13. W. SEEMAN e col., "The influence of T.M. on a measure of self actualisation",

J. of Counseling Psy., 1972, vol. 19, 3, pp. 184 187.1 1

14.  S. NIDICH e col., "Influence of T.M.: a replication", in J. of Counseling Psy.; 1973, vol. 20, 6, pp. 565 e s.

15.  L. HJELLE, "T.M. and psychological health", in Perceptual and Motor Skills, 1974, vol. 39, pp. 623 e s.

16. L. DOUCETTE, Anxiety and T.M. as an anxiety reducing agent, Mac Master University, Hamilton, Canadá, Jan. 1972.

17. T. FEHR e col., "Study of 49 practitioners of T.M. with the freiburger perso­nality inventory", in Scientific Research on T.M.: collected papers, 1975, op. cit., vol. 1.

18.  Z. LAZAR e col., "The effects of T.M. on anxiety, drug abuse, cigarrette smoking and alcohol consumption", ín Sc. Res. on T.M., 1967, op. cit.

19.  D. ORME JOHNSON e col., "T.M. for drug abuse counselors", in Sc. Res. on T.M., 1975, op. cit.

20   P. FERGUSON e col., "Psychological findings on T.M.” com. à Cal. State Psy. Assoc., Fresno (Cal.), 1974.

21.  Podem se encontrar as referências correspondentes na obra de BLOOMFIELD, citada.

22.  Cf. também J. HENROTTE e col., in La Recherche, dez. 1972, n.° 29, vol. 3, pp. 1090-1102.

23. Bordand and Lanrith III, "Improved quality of city life through the T.M. pro­gram: decreased crime rate", in Sc. Res. on T.M.: Collected papers, vol. 1, 1977, paper 98, pp. 639 648; cf. também D. ORME JOHNSON, "The dawn of the age of enlightenment: experimental evidence that the T.M. technique pro­duces a fourth and fifth state of consciousness in the individual and a profound influence of orderliness in Society", in Sc. Res. on T.M.: collected papers, vol. 1, 1977, paper 100, pp. 671 691.

24.  B. AURIOL, Com. em journées Scientifiques d'audio Psycho Phonologie de Carassonne, 1977.

25.  B, AURIOL, Yoga et Psychothérapie, Privat, 1977.

26.  H. BENSON e M. KLIPPER, Réagir par la détente, Tchou, 1976.

Google
  Web auriol.free.fr   


Psychosonique Yogathérapie Psychanalyse & Psychothérapie Dynamique des groupes Eléments Personnels

© Copyright Bernard AURIOL (email : )

26 Novembre 2002