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1. A MEDITAÇÃO TRANSCENDENTAL
Esta técnica, largamente
divulgada nos EUA e no Canadá, começa a se difundir pela África, Europa e
Ásia. É originária da índia, onde Maharishi Mahesh Yogi foi formado em uma
antiga tradição de "Mantra Ioga" pelo Guru Dev.
A Mantra Ioga consiste
em repetir mentalmente, com os olhos fechados, um som sem valor semântico.
A tradição da Ioga insiste sobre o impacto específico dos diferentes sons
que agem em um nível ou outro, segundo sua estrutura de freqüência. A escolha
do Mantra é efetuada pelo instrutor entre uma série de sons que lhe foram
transmitidos, e valendo se de alguns dados simples (sexo, idade, experiências
anteriores) e da intuição. 0 cliente é convidado a repetir interiormente este
som, sem o pronunciar, duas vezes por dia, em sessões de quinze a 20 minutos.
Dia após dia o som muda, no sentido de que ele se afina, torna se cada vez
mais sutil. Pode se comparar esta evolução a uma espécie de polimento espontâneo.
a. Efeitos fisiológicos
Os efeitos desta técnica
simples são muito semelhantes aos que ocorrem em outros modos de relaxamento.
No entanto, são obtidos mais rapidamente (muitas vezes em menos de quinze
dias) e claramente mais acentuados e constantes. Observa se:
redução das necessidades
de oxigênio com redução do metabolismo básico(1);
redução do ritmo respiratório (2) ;
importante aumento da
condutibilidade específica de ar pelos brônquios (inclusive nos asmáticos)
(3).
Com o passar do tempo a diminuição do ritmo respiratório
se estabiliza, e ocorre independentemente das sessões de meditação(4).
Observa se também uma
redução do débito cardíaco (5) durante a sessão (devido à redução das necessidades
de oxigênio), uma redução progressiva e benéfica do ritmo cardíaco durante
e fora das sessões (4). Quanto à composição do sangue, constata se uma notável
queda da quantidade de ácido lático (6) (cf. também nota 1). Essa substância
é indício de trabalho muscular com insuficiência de oxigênio. Costuma aumentar
na fadiga muscular, na ansiedade e na hiperpnéia. 0 débito sangüíneo no antebraço
(e provavelmente em outras massas musculares) aumenta de maneira notável
(7), bem como a temperatura da pele. Tudo isso vem demonstrar um grande relaxamento
muscular e vascular.
A resistência da pele à
passagem da corrente elétrica diminui conforme a ansiedade do indivíduo. Esta observação é que deu origem aos aparelhos
“detetores de mentira”. Ao contrário, durante a sessão de M.T. a resistência
eletrodérmica passa de um valor inferior a 100 quilo ohms para valores elevados
próximos de 300 quilo ohms em média. Aliás, essa resistência eletrodérmica
torna se mais estável mesmo fora das sessões de meditação; isto é indício
de um melhor equilíbrio neurovegetativo (8).
0 registro das ondas elétricas
do cérebro (E.E.G.) mostra que a M.T. leva rapidamente a um estado de consciência
especial que pode ser comparado ao estado de meditação Zen, a alguns estados
de oração cristã ou às outras técnicas da Ioga. Provavelmente também está
Próximo do que se observa na fase das “Imagens místicas” do R.E.D.D., dos
momentos
felizes de uma sessão de Rebirth e do estado autógeno
profundo. E, pelo contrário, distingue se dos estados de transe e da consciência
psicodélica a que foi ocasionalmente comparado. Wallace propôs chamá lo de
Quarto estado da consciência, na medida em que
o relaxamento consciente (muscular, neurovegetativo, cerebral e subjetivo)
atinge um tal grau que se deve distingui lo ao mesmo tempo do sono (ele é
consciente), do estado de vigília (onde não há um verdadeiro repouso), do
sonho (ao qual se opõe ponto por ponto, exceto em que poderia ter como ele
uni papel de destaque no equilíbrio psicológico). Este estado se caracteriza
por um efeito de coerência no eletroencefalograma (E.E.G.), demonstrado graças
à análise de freqüência (de Fourier) em computador. Observa se:
uma intensificação
do ritmo alfa (aumento da amplitude), que tende:
a invadir
todo o couro cabeludo;
a persistir,
apesar das estimulações parasitas de intensidade média e da abertura dos olhos;
a se pôr
em fase (ou seja, as células, em vez de pulsarem cada uma à sua maneira, adotam
um mesmo ritmo em conjunto).
Surgem ondas teta durante
a experiência subjetiva de bem aventurança. Nos mais avançados, nota se
uma sincronização das ondas rápidas beta (9).
Paty e Petit (cf. nota
9 g e h) demonstraram que a Variação Contingente Negativa (V.C.N.) era diminuída
ou suprimida durante a meditação, o que traduz uma tal mudança de atitude
mental que, em face de um condicionamento anterior, o sistema nervoso do indivíduo
se comporta como se não tivesse sido condicionado. Assim se poderia explicar
o efeito terapêutico da M.T.: ela possibilitaria o rompimento de um certo
número de cadeias condicionadas (repetitivas ou em círculo vicioso) não conscientes
ou pré conscientes.
b. Efeitos psicossomáticos
Wallace e Col. (8) demonstraram
que a M.T. acarretava uma diminuição dos resfriados e das reações alérgicas.
Sua prática baixa de maneira estatisticamente significativa a T.A. dos hipertensos
(6). Nos asmáticos, a função respiratória tende para o normal (10). Repetidos
depoimentos afirmam o valor da M.T. em um certo número de outras afecções
(úlcera, cefaléia, insônia, hipersônia, etc.); mas, até 1977, tais casos ainda
não haviam sido objeto de verificações estatísticas cientificamente conduzidas
(11).
c.
Efeitos psicológicos
A prática regular da M.T.
favorece o que Maslow (12) chamou de "atualização de si", ou seja,
o desabrochar harmonioso das faculdades (13). Nidich (14) e Hjelle (15) demonstraram que havia nos meditadores
um aumento de autonomia, de espontaneidade, de auto aceitação e auto respeito,
melhor adaptação temporal, maior capacidade de criar relações calorosas com
o próximo, e maior aceitação dos fenômenos de agressão (tais valores foram
medidos no teste P.0.I.).
L.C. Doucette provou que
havia uma redução da ansiedade manifesta nos meditadores, em relação a um
grupo de controle formado de indivíduos que haviam aprendido uma técnica errônea
de meditação (16). Os trabalhos de L. A. Hjelle (15) ", T. Fehr (17),
Z. Lazar (18), D. Orme johnson (19) e P. C. Ferguson (20) caminham todos no
mesmo sentido. Numerosas pesquisas (21), utilizando uma grande variedade de
testes psicológicos e recorrendo à comparação estatística entre meditadores
e não meditadores, indicam que a M.T. praticada regularmente (todos os dias,
duas vezes por dia) diminui todas as escalas de patologia mental e a contagem
global das tendências neurótica, psicótica e psicossomática.
Pode se considerar, à
luz desses estudos, que o quarto estado de consciência (obtido graças à M.T.,
mas também, embora com menor facilidade e rapidez, através de outras técnicas) constitui
um estado de recuperação,de expansão e de harmonização. Este estado talvez
seja tão necessário ao equilíbrio biológico humano durante o dia, quanto o
sonho o é durante a noite (22).
d. Efeitos sociológicos
(23)
Alguns estudos demonstraram
um fato curioso e excitante, embora totalmente inesperado: se num grupo humano
um indivíduo em cem pratica a M.T. regularmente duas vezes por dia, a taxa
de crimes, acidentes e doenças diminui significativamente do ponto de vista
estatístico, em relação ao mesmo grupo humano antes que a porcentagem de meditadores
atingisse esse 1 %. Isto foi verificado em várias dezenas de cidades (com
um grupo de controle formado pelo mesmo número de cidades, e onde a M.T. não
era praticada. No grupo de controle, a criminalidade aumentou). Poderíamos
objetar que talvez se esteja tomando o efeito concomitante pela causa. Por
exemplo, poderia ser que as cidades que "melhoraram" globalmente
(com melhores leis, com uma imprensa melhor, etc.) tenham habitantes mais
dispostos que os outros a praticar técnicas variadas de "busca interior",
inclusive a M.T.
A única maneira de resolver
esse problema é decidir, de antemão e ao acaso, em quais cidades se conseguirá
a porcentagem de 1 % de meditadores através de uma propaganda intensiva,
e quais cidades, onde não se fará publicidade da M.T., servirão de controle.,
Se após este procedimento
os mesmos fatos forem observados, o efeito 1% (ou efeito Maharishi) estará
definitivamente estabelecido. Dessa forma, a M.T. surgiria como uma técnica
de relaxamento para os grupos humanos.
2. TÉCNICA DE BENSON
Ele se interessou pela
M.T., em relação à qual realizou numerosas mensurações fisiológicas. Sua conclusão
foi que a eficácia dessa técnica nada deve à natureza do Mantra, que seria importante somente por
sua constância e monotonia. Propõe então que se repita em som qualquer, e
sugere a palavra "one", que
significa "um".
[A palavra "um"
parece demasiado curta. Seria necessário escolher outra; por exemplo, uni. Por outro lado, a natureza do som
talvez tenha uma importância que não deve ser subestimada. Segundo a, tradição,
alguns sons poderiam até mesmo resultar em graves inconvenientes, desenvolvendo
partes do ser que não se gostaria que tivessem predominância. Com efeito,
cada som teria um parentesco psicológico com determinada zona do corpo e com
um certo número de dados psíquicos. Eu, pessoalmente, já demonstrei que a
capacidade de ouvir um som varia segundo as preferências dos indivíduos por
determinados símbolos picturais oriundos da tradição tântrica. Quanto mais
se prefere o símbolo do Chakra do baixo, menos sensível se é às freqüências
sonoras elevadas (3.000 a 8 .000 hz)] (24)
Os
quatro estados de consciência
|
Estados de consciência |
Sono |
Sonho |
Vigília |
Consciência transcendental |
1 |
Vigilância
|
( - ) |
( - ) |
( + ) |
( + ) |
2 |
Atividade |
( - ) |
( + ) |
( + ) |
( - ) |
3 |
Nível de consciência |
Nulo |
Consciência "ilusória" |
Consciência de conteúdos": percepções pensadas |
Consciência pura (sem conteúdo) |
4 |
Papel funcional |
Normalização com relação à fadiga fisiológica |
Normalização com relação às frustrações |
Atividade motivada pela realização dos desejos |
Integração fisiológica e psicológica máxima. Estado de plenitude |
Observa se um certo paralelismo entre a coerência do
E.E.G. e o valor do nível de consciência. A mais altos níveis da consciência
correspondem os níveis de integração cerebral mais elevados. Pode se aventar
a hipótese de que sonho e sono preparem a atividade ótima; esta última tem
por objetivo atingir a plenitude consciente (segundo D. ORME JOHNSON,
Sc. Res. on T.M., op. cit., p. 682).
.
Benson demonstrou que sua técnica proporciona as mesmas modificações respiratórias e cardiovasculares que a M.T. Resta verificar a semelhança entre os efeitos cerebrais, especialmente os eletroencefalográficos.
Já levantei a hipótese (25) de que a repetição interna de um som não significante teria dois efeitos: um específico, de relaxamento orgânico, e o outro particular à natureza desse som (estimulação deste ou daquele conjunto macrometamérico, inclusive em suas implicações psico afetivas).
Concretamente, qual é a técnica de Benson (26)? Ela é extremamente simples, e exige somente o cumprimento regular (duas vezes por dia, durante 10 a 20 minutos) dos quatro pontos seguintes:
NOTAS
1. R.K. WALLACE e H. BENSON, "The physiology of
meditation", in Scientific
American,
vol. 226, n.° 2, fev.
1972, pp. 84 90.
2. J. ALLISON, "Respiratory
changes during the practice of the technique of Transcendantal Meditation", in Lancet, 1970, n.° 7651, p. 833 e s.
3. P. COREY, "Airway conductance and oxygen consumption.
Changes associated
with practice of the T.M. technique", in Scientific Research on the T.M. program, Collected
Papers, vol.1, p. 6, pp. 94 107, M.E.R.U. Press, 1976.
4. T. ROUTT, "Low
normal heart and respiration rates en practitioners of Transcendantal Meditation",
in Scientific Research on T.M.: Collected
Papers, vol. 1, ed. Orme Johnson e col., Nova York, M.E.R.U. Press, 1975.
5. R. WALLACE, The
physiological effects of T.M., a
proposed fourth major state
of
consciousness, tese de Doutoramento
em Fisiologia, Universidade da Califórnia, Los Angeles, 1972.
6. R. WALLACE e col., "A wakeful hypometabolic physiologic
state", in American
J. of Physiol.,
1971, vol. 221, n.° 3, pp. 795 e s.
7. H. REICHART, “Plethsmographische Untersuchungen bei
Konzentrations und
Meditations Ubungen arliche
Forsche” Artiche Forsch., 1967, vol. 21, pp. 61 65.
8. D. ORME JOHNSON, "Autonomic stability and Transcendantal
Meditation", in
Psychosomatic
Med., 1973, 35, 4, pp.
341 e s.
9.
a. A. KASAMATSU e col., "An
E.E.G. study of the Zen Meditation", in Altered states of consciousness
C.T. Tart, Nova York, Wiley and Son Inc. 1969, pp. 484-501.
b. F. BROWN e col., "E.E.G. Kappa rhythms
during T.M. and possible perceptual threshold changes following", com.
à Kentucky Academy of Sciences, Richmond,
13 nov. 1971 e jan. 1972.
c. J. P. BANQUET, "E.E.G.
and Meditation", in E.E.G. and
clinical neurophysiol., 1972, vol. 33, pp. 449 458.
d. J. P. BANQUET e col.,
"Quantification E.E.G.. d’états de vigilance spontanés et induits",
in Rev. d'E.E.G. neurophysiol., 1975,
t. 5, n.° 3, pp. 237 e . s.
e. DAS e H. GASTAUT, "Variations de l'activité électrique du cerveau,
du coeur et des muscles au cours de la méditacion et de l'extase yoguique",
Electroenceph. Clin. Neurophysiol.,
1957, suppl. 6, pp. 211 219.
f. P. ETEVENON e col., "Approche méthodologique
des états de conscience
modifiés volontairement",
Rev. E.E.G. Neurophysiol., 1973,
3, pp, 232 237.
g. J. PATY e col., "Modifications des potentiels
évoqués et de Ia V.C.N. par
l'effet de M.T.", Trace, 1976, 7, 8, 73.
h. J. P. PETIT, Contribution
à 1'étude physiologique des états de conscience; Ia
méditation
transcendantale. Thése
de 3.° ciclo em Odont., Bordéus
II, 1977, Bergeret, Bordéus.
10. A. WILSON e col., "The effects of T.M. upon
bronchial asthma", in Clinical
Research,
2, 1973, n.° 2.
11. H. BLOOMFIELD e col., La M.T. ou comment atteindre l’énergie intérieure,
Tchou, 1976.
12. A. MASLOW, Toward
a psychology of being, Van Nostrand Co., Nova York,
1968.
13. W. SEEMAN e col., "The influence of T.M.
on a measure of self actualisation",
J. of Counseling
Psy., 1972, vol. 19, 3, pp. 184 187.1 1
14. S. NIDICH e col., "Influence of T.M.: a
replication", in J. of Counseling
Psy.; 1973, vol. 20, 6, pp. 565 e s.
15. L. HJELLE, "T.M. and psychological health",
in Perceptual and Motor Skills, 1974,
vol. 39, pp. 623 e s.
16. L. DOUCETTE, Anxiety and T.M. as an anxiety reducing agent, Mac Master University,
Hamilton, Canadá, Jan. 1972.
17. T. FEHR e col., "Study of 49 practitioners
of T.M. with the freiburger personality inventory", in Scientific Research on T.M.: collected papers,
1975, op. cit., vol. 1.
18. Z. LAZAR e col., "The effects of T.M. on
anxiety, drug abuse, cigarrette smoking and alcohol consumption", ín
Sc. Res. on T.M., 1967, op. cit.
19. D. ORME JOHNSON e col., "T.M. for drug
abuse counselors", in Sc. Res.
on T.M., 1975, op. cit.
20 P. FERGUSON e col., "Psychological findings
on T.M.” com. à Cal. State Psy. Assoc.,
Fresno (Cal.), 1974.
21. Podem se encontrar as referências correspondentes
na obra de BLOOMFIELD, citada.
22. Cf. também J. HENROTTE e col., in La Recherche, dez. 1972, n.° 29, vol. 3,
pp. 1090-1102.
23. Bordand and Lanrith III, "Improved quality
of city life through the T.M. program: decreased crime rate", in Sc.
Res. on T.M.: Collected papers, vol. 1, 1977,
paper 98, pp. 639 648; cf. também D. ORME JOHNSON, "The dawn of the
age of enlightenment: experimental evidence that the T.M. technique produces
a fourth and fifth state of consciousness in the individual and a profound
influence of orderliness in Society", in Sc. Res. on T.M.: collected papers, vol. 1, 1977, paper 100, pp. 671 691.
24. B. AURIOL, Com. em journées Scientifiques d'audio Psycho Phonologie de Carassonne,
1977.
25. B, AURIOL, Yoga
et Psychothérapie, Privat, 1977.
26. H. BENSON e M. KLIPPER, Réagir par la détente, Tchou, 1976.