A  HATHA -  IOGA

CAPÍTULO VIII

Dr Bernard Auriol

 

 



 

A Ioga da índia reúne um grande número de técnicas, doutrinas e variações. Não pertence propriamente a qualquer corrente religiosa, embora tenha sido utilizada pôr várias delas (vedanta, samkhya, tântrica, budista, etc.). 0 conjunto das doutrinas e técnicas orientais (acupuntura, Taï Chi Chuan, Zen) lhe deve alguma coisa.

Existem cinco categorias de Ioga: Karma Ioga, Bhakti Ioga, Raja Ioga, Gnana Ioga e Hatha Ioga. Cada uma dessas iogas tem alguma coisa a ver com o relaxamento, o qual deve intervir tanto na ação, na devoção, na meditação, quanto no conhecimento e no equilíbrio psicossomático. No entanto, a nível prático, e como não se trata aqui de aprofundar esses aspectos (1) digamos apenas que uma das mais acessíveis entre as iogas, no Ocidente, é a Hatha -Ioga (2). Ela compreende oito membros:

 

1. Refreamentos

2. Disciplinas

3. Posturas

4. Respiração

S. Concentração segundo três modos: Pratyara

6.                                                        Dharana

7.                                                        Dhyana

8. Iluminação ou Samadhi.

 

Vamo -nos deter um pouco nos números 3 e 4.

 

Cada uma das posturas da Ioga tem efeitos interessantes sobre este ou aquele órgão, ou sobre todo o sistema nervoso vegetativo (que comanda o funcionamento dos órgãos). Para cada postura existe uma contrapostura, de tal forma que seu uso durante uma sessão solicita um determinado conjunto orgânico em dois sentidos opostos. 0 resultado final é o equi­líbrio, 0 efeito global da Ioga consiste em reforçar a homeostase fisiológica e psicológica.

 

 

Chama se homeostase ou homeostasia a capacidade que tem o orga­nismo de manter em um limite estreito de variação, com valor praticamente constante, cada uma de suas realidades. Por exemplo: a temperatura em torno de 37° a tensão arterial em torno de 13/7, o pulso em torno de 60/70, etc. 0 stress, as agressões de todo tipo, as emoções tendem a nos afastar desses valores de equilíbrio; a Ioga reforça nossa possibilidade de manter o equilíbrio. É, portanto, uma fórmula anti -stress, um relaxamento que ocorre, aliás, em uma postura de descontração completa (antepassada do Treinamento Autógeno): a shavasana ou “postura do corpo morto”. A sessão inclui, depois de cada postura, uma breve fase de shavasana, rela­xamento que não exige qualquer intervenção do monitor, Freqüentemente este utiliza diferentes modalidades de relaxamento sugestivo, de tipo sofrô­nico, no começo ou no final da sessão. Pode se encontrar toda uma série deles nas obras de Boyes, Yoga Nidra (ed. Epi).

Ph. de Meric (3) observa, com razão, que a verdadeira Ioga deveria dis­pensar esse tipo de relaxamento, na medida em que ela implica em umá harmonia entre energias e atividades, Não engloba, portanto, essa excessiva necessidade de relaxamento que se deve à vida de tensões que levamos atualmente. Mais do que nos ensinar a relaxar após nos termos submetido a tensões excessivas, a Ioga deveria induzir nos a uma vida sã, que incluísse uma organização “ecológica” de nosso cotidiano. Apesar disso ela pode, a título provisório, proporcionar nos essa restauração pessoal que lhe é solicitada.

Graças às fases de “recuperação de energia” entre as posturas, pode se sentir, nos membros e sobretudo ao longo da coluna vertebral, a circulação das energias despertadas pelo Asana.

Outro ponto importante é a respiração. A expiração consciente, guiada pela imaginação para uma tensão determinada, faz com que esta desapareça. Por outro lado, a respiração lenta, completa (baixa, média e alta) oferece um bom relaxamento. Igualmente a respiração que se faz imaginando que o ar entra e sai abaixo do pomo de Mão, como se ali houvesse um buraco, é muito relaxante. Deve se ouvir um ruído especial muito suave. A respi­ração "lunar" (inspiração pela narina esquerda, com a direita fechada, e depois expiração pela narina direita com a esquerda fechada) é sedativa para numerosas pessoas (Bourdiol). Mais freqüentemente, porém, prefere se a respiração alternada, onde a um movimento do tipo do que acabo de descrever sucede se uma inspiração pela narina direita com expiração pela esquerda, continuando se alternadamente durante alguns minutos (1/4 de hora por exemplo, toda noite antes de adormecer). Os efeitos fisiológicos da Ioga são muito importantes, e constituem tema de numerosos estudos (4).

As posturas são feitas sem dívida de oxigênio, ou seja, a respiração é suficiente para fornecer o ar necessário à postura, mesmo quando esta é difícil. Não há falta de fôlego. Durante as posturas o coração se acelera; mas após alguns meses de exercício o pulso se apresenta muito mais estávele geralmente mais lento do que antes de começar a Ioga. Conforme as regiões visadas por esta ou aquela postura, a temperatura da pele se eleva ou cai até o ponto correspondente (até 2 graus).

0 uso sistemático (15 minutos de manhã e à noite, por exemplo) de técnicas respiratórias simples tem um importante efeito de relaxamento muscular; permite tratar um grande número de insônias sem o uso de medicamentos, aumenta a adaptação ao fio e ao calor, aumenta a secreção urinária e exerce um papel sedativo sobre a excitação mental e psicomoto­ra (5). Ficou demonstrado (6) que a prática da Hatha Ioga acarreta uma impor­tante diminuição do ritmo respiratório, com aumento da amplitude e dimi­nuição do ritmo cardíaco, que se estabiliza (7). A secreção de adrenalina (fiel testemunha da quantidade de stress) é nitidamente menor logo após três semanas de Hatha Ioga. Observa se também modificação nas secreções do córtex supra renal. Narain Varandani (8) de Jaïpur mostrou o grande inte­resse de alguns exercícios de Ioga para tratar o diabetes melitus, a asma brônquica e os distúrbios funcionais digestivos. A obesidade (9) e a magreza patológica beneficiam largamente da prática dos asanas e pranayamas simples. Em hospital psiquiátrico, por exemplo, pôde se constatar que os pacientes em tratamento por Ioga têm tendência a se aproximar de seu peso ideal. A hipertensão arterial essencial é corrigida em unia proporção de 20% para a mínima e a máxima (sem o uso de medicamentos).

E claro que a prática das posturas constitui uma excelente técnica de relaxamento (10). Gomes mostrou que durante as posturas o número de músculos relaxados é muito maior em um iogue do que  em um indivíduo escolhido ao acaso. Alguns autores sugeriram que as compressões e estriamentos sobre pontos precisos do organismo, superficiais e profundos, expli­cariam os efeitos específicos de cada postura sobre determinado órgão, por um mecanismo análogo ao que intervém em acupuntura, do -in, massagem reflexa, etc. Utiliza se a Ioga para a reeducação de deficientes motores e para a melhora do andar de pessoas idosas. Ela mostrou se eficaz contra a asma, em certas doenças venosas e na constipação crônica. Também é reco­mendada no tratamento de psoríase.

A nível psicoterapêutico, a Hatha -Ioga parece acelerar o processo evolutivo, permitindo um enfrentamento mais rápido da problemática in­consciente. Aliás, ela tem efeitos específicos, e geralmente consegue diminuir a angústia, abolir a insônia, reduzir as somatizações (distúrbios respiratórios, cardíacos, digestivos, endócrinos), melhorar a imagem do corpo, lutar contra a bulimia e a obesidade. São necessários no mínimo um ou dois meses de prática (com lições semanais com um professor e prática coti­diana em casa) para obter resultados indiscutíveis. Após seis meses de prática, alguns dos resultados obtidos podem persistir parcialmente, mesmo que o indivíduo interrompa sua prática regular (11).

Por outro lado, a Hatha -Ioga facilita o acesso a estados particulares do organismo, dos quais falarei mais detalhadamente a propósito da M.T. e do Zen.

 

chapitre précédent Capitulo                  capitulo IXsuite

 

NOTAS                                                              

 

1.  Cf. B. AURIOL, Yoga et Psychothérapie, Privat, 1977.

2.  Algumas técnicas da Ioga devocional (Krishna), e da Raja -Ioga (Guru Maharaj Ji), da Manthra -Ioga (Maharishi Mahesh Yogi) são de acesso igualmente fácil e especialmente a "Meditação transcendental" (Capítulo IX).

3.  P. DE MÊRIC, Yoga pour chacun, Livre de poche, 1968.

4   J. LONSDORFER e col., Approche physiologique du Hatha-Yoga", in Vie Médicale, março 1974; e também Kovoor T. Behanan, Yoga, a scientific evaluation, Dover Pub. Inc., Nova York, 1937, 1964.           

5.  Lefébure, La respiration rythmique et Ia concentration mentale, thèse de me­dicina, Algériá, 1942, reed. por Aryana, Paris, 1953, pp. 60 -80.

6.  R. ABREZOL, "Experiências efectuadas en el Jefferson Medical College de Filadélfia en los servicios del profesor Friedman", in Sof. Med., op. cit., pp. 243 e s.

7.  Relatório mimeografado do Grupo de Estudo junto ao Ministério da Juventude e dos Esportes, sobre a Ioga, 1977; e também HENROTTE, "Yoga et Biologie", in Atomes, 265, 1969, vol. 24, 283-292.

8.  VARANDANI, "La Índia y el arte de curar", in Sof. Med., op. cit., t. I, pp. 131 e s.

9.  LEFÊBURE, ibid., pp. 72-74.

10. No seio da vasta literatura sobre a Ioga, todos os resultados enunciados foram considerados válidos pelo Grupo de Estudo junto ao Ministério da juventude e dos Esportes, cujo relatório foi publicado em 1977.

11. Cf. B. AURIOL, "La Yogathérapie de Groupe", in Psychoterapy and Psychosomatics, vol. 20, n.os 3 -4, pp. 162 -168, 1972.

Google
  Web auriol.free.fr   


Psychosonique Yogathérapie Psychanalyse & Psychothérapie Dynamique des groupes Eléments Personnels

© Copyright Bernard AURIOL (email : )

25 Novembre 2002