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A Ioga
da índia reúne um grande número de técnicas, doutrinas e variações. Não
pertence propriamente a qualquer corrente religiosa, embora tenha sido
utilizada pôr várias delas (vedanta, samkhya, tântrica, budista, etc.). 0 conjunto
das doutrinas e técnicas orientais (acupuntura, Taï Chi Chuan, Zen) lhe deve
alguma coisa.
Existem cinco categorias
de Ioga: Karma Ioga, Bhakti Ioga, Raja Ioga, Gnana Ioga e Hatha Ioga.
Cada uma dessas iogas tem alguma coisa a ver com o relaxamento, o qual deve
intervir tanto na ação, na devoção, na meditação, quanto no conhecimento e no
equilíbrio psicossomático. No entanto, a nível prático, e como não se trata aqui
de aprofundar esses aspectos (1) digamos apenas que uma das mais acessíveis
entre as iogas, no Ocidente, é a Hatha -Ioga (2). Ela compreende oito
membros:
1. Refreamentos
2. Disciplinas
3. Posturas
4. Respiração
S. Concentração segundo três modos: Pratyara
6. Dharana
7.
Dhyana
8. Iluminação ou Samadhi.
Vamo -nos deter um pouco nos números 3 e 4.
Cada uma das posturas da
Ioga tem efeitos interessantes sobre este ou aquele órgão, ou sobre todo o
sistema nervoso vegetativo (que comanda o funcionamento dos órgãos). Para cada
postura existe uma contrapostura, de tal forma que seu uso durante uma sessão
solicita um determinado conjunto orgânico em dois sentidos opostos. 0 resultado
final é o equilíbrio, 0 efeito global da Ioga consiste em reforçar a homeostase
fisiológica e psicológica.
Chama se
homeostase ou homeostasia a capacidade que tem o organismo de manter em um
limite estreito de variação, com valor praticamente constante, cada uma de suas
realidades. Por exemplo: a temperatura em torno de 37° a
tensão arterial em torno de 13/7, o pulso em torno
de 60/70,
etc. 0 stress, as agressões
de todo tipo, as emoções tendem a nos afastar desses valores de equilíbrio; a
Ioga reforça nossa possibilidade de manter o equilíbrio. É, portanto, uma
fórmula anti -stress, um relaxamento que ocorre, aliás, em uma postura de
descontração completa (antepassada do Treinamento Autógeno): a shavasana ou “postura do corpo morto”. A sessão inclui, depois de cada
postura, uma breve fase de shavasana, relaxamento
que não exige qualquer intervenção do monitor, Freqüentemente este utiliza
diferentes modalidades de relaxamento sugestivo, de tipo sofrônico, no começo
ou no final da sessão. Pode se encontrar toda uma série deles nas obras
de Boyes, Yoga Nidra
(ed. Epi).
Ph. de Meric (3)
observa, com razão, que a verdadeira Ioga deveria dispensar esse tipo de
relaxamento, na medida em que ela implica em umá harmonia entre energias e
atividades, Não engloba, portanto, essa excessiva necessidade de relaxamento
que se deve à vida de tensões que levamos atualmente. Mais do que nos ensinar a
relaxar após nos termos submetido a tensões excessivas, a Ioga deveria induzir nos
a uma vida sã, que incluísse uma organização “ecológica” de nosso cotidiano.
Apesar disso ela pode, a título provisório, proporcionar nos essa
restauração pessoal que lhe é solicitada.
Graças às fases de “recuperação
de energia” entre as posturas, pode se sentir, nos membros e sobretudo ao
longo da coluna vertebral, a circulação das energias despertadas pelo Asana.
Outro ponto importante é
a respiração. A expiração consciente, guiada pela imaginação para uma tensão
determinada, faz com que esta desapareça. Por outro lado, a respiração lenta,
completa (baixa, média e alta) oferece um bom relaxamento. Igualmente a
respiração que se faz imaginando que o ar entra e sai abaixo do pomo de Mão,
como se ali houvesse um buraco, é muito relaxante. Deve se ouvir um ruído
especial muito suave. A respiração "lunar" (inspiração pela narina
esquerda, com a direita fechada, e depois expiração pela narina direita com a
esquerda fechada) é sedativa para numerosas pessoas (Bourdiol). Mais
freqüentemente, porém, prefere se a respiração alternada, onde a um
movimento do tipo do que acabo de descrever sucede se uma inspiração pela
narina direita com expiração pela esquerda, continuando se alternadamente
durante alguns minutos (1/4 de hora por exemplo, toda noite antes de
adormecer). Os efeitos
fisiológicos da Ioga são
muito importantes, e constituem tema de numerosos estudos (4).
As posturas são feitas
sem dívida de oxigênio, ou seja, a respiração é suficiente para fornecer o ar
necessário à postura, mesmo quando esta é difícil. Não há falta de fôlego.
Durante as posturas o coração se acelera; mas após alguns meses de exercício o
pulso se apresenta muito mais estávele geralmente mais lento do que antes de
começar a Ioga. Conforme as regiões visadas por esta ou aquela postura, a
temperatura da pele se eleva ou cai até o ponto correspondente (até 2 graus).
0 uso sistemático (15
minutos de manhã e à noite, por exemplo) de técnicas respiratórias simples tem
um importante efeito de relaxamento muscular; permite tratar um grande número
de insônias sem o uso de medicamentos, aumenta a adaptação ao fio e ao calor,
aumenta a secreção urinária e exerce um papel sedativo sobre a excitação mental
e psicomotora (5).
Ficou demonstrado (6) que a prática da Hatha Ioga acarreta uma importante
diminuição do ritmo respiratório, com aumento da amplitude e diminuição do
ritmo cardíaco, que se estabiliza (7). A
secreção de adrenalina (fiel testemunha da quantidade de stress) é nitidamente
menor logo após três semanas de Hatha Ioga. Observa se também
modificação nas secreções do córtex supra renal. Narain Varandani (8) de
Jaïpur mostrou o grande interesse de alguns exercícios de Ioga para tratar o
diabetes melitus, a asma brônquica e os distúrbios funcionais digestivos. A
obesidade (9) e a magreza patológica beneficiam largamente da prática dos asanas
e pranayamas simples. Em hospital psiquiátrico, por exemplo, pôde se
constatar que os pacientes em tratamento por Ioga têm tendência a se aproximar
de seu peso ideal. A hipertensão arterial essencial é corrigida em unia
proporção de 20% para a mínima e a máxima (sem o uso de medicamentos).
E claro que a prática
das posturas constitui uma excelente técnica de relaxamento (10). Gomes mostrou
que durante as posturas o número de músculos relaxados é muito maior em um iogue
do que em um indivíduo escolhido ao
acaso. Alguns autores sugeriram que as compressões e estriamentos sobre pontos
precisos do organismo, superficiais e profundos, explicariam os efeitos
específicos de cada postura sobre determinado órgão, por um mecanismo análogo
ao que intervém em acupuntura, do -in, massagem reflexa, etc. Utiliza se
a Ioga para a reeducação de deficientes motores e para a melhora do andar de
pessoas idosas. Ela mostrou se eficaz contra a asma, em certas doenças
venosas e na constipação crônica. Também é recomendada no tratamento de
psoríase.
A nível
psicoterapêutico, a Hatha -Ioga parece acelerar o processo evolutivo,
permitindo um enfrentamento mais rápido da problemática inconsciente. Aliás,
ela tem efeitos específicos, e geralmente consegue diminuir a angústia, abolir a insônia, reduzir as somatizações (distúrbios
respiratórios, cardíacos, digestivos, endócrinos), melhorar a imagem do corpo,
lutar contra a bulimia e a
obesidade. São necessários no mínimo um ou dois meses de prática (com lições
semanais com um professor e prática cotidiana em casa) para obter resultados
indiscutíveis. Após seis meses de prática, alguns dos resultados obtidos podem
persistir parcialmente, mesmo que o indivíduo interrompa sua prática regular
(11).
Por outro lado, a Hatha -Ioga facilita o acesso a estados
particulares do organismo, dos quais falarei mais detalhadamente a propósito da
M.T. e do Zen.
NOTAS
1. Cf. B. AURIOL, Yoga et Psychothérapie, Privat, 1977.
2. Algumas técnicas da Ioga devocional (Krishna),
e da Raja -Ioga (Guru Maharaj Ji), da Manthra -Ioga (Maharishi Mahesh Yogi)
são de acesso igualmente fácil e especialmente a "Meditação transcendental"
(Capítulo IX).
3. P. DE MÊRIC, Yoga pour chacun, Livre de poche, 1968.
4 J. LONSDORFER e col., Approche physiologique du Hatha-Yoga",
in Vie Médicale, março 1974; e também
Kovoor T. Behanan, Yoga, a scientific
evaluation, Dover Pub. Inc., Nova York, 1937, 1964.
5. Lefébure, La respiration rythmique
et Ia concentration mentale, thèse de medicina, Algériá, 1942, reed.
por Aryana, Paris, 1953, pp. 60 -80.
6. R. ABREZOL, "Experiências efectuadas en el Jefferson Medical
College de Filadélfia en los servicios del profesor Friedman", in Sof. Med., op. cit., pp. 243 e s.
7. Relatório mimeografado do Grupo de Estudo junto
ao Ministério da Juventude e dos Esportes, sobre a Ioga, 1977; e também HENROTTE,
"Yoga et Biologie", in Atomes,
265, 1969, vol. 24, 283-292.
8. VARANDANI, "La Índia y el arte de
curar", in Sof. Med., op. cit., t.
I, pp. 131 e s.
9. LEFÊBURE, ibid., pp. 72-74.
10. No seio da vasta literatura sobre a Ioga, todos
os resultados enunciados foram considerados válidos pelo Grupo de Estudo junto
ao Ministério da juventude e dos Esportes, cujo relatório foi publicado em
1977.
11. Cf. B. AURIOL, "La Yogathérapie de Groupe",
in Psychoterapy and Psychosomatics,
vol. 20, n.os 3 -4, pp. 162 -168, 1972.