0 MÊTODO MÉZIÈRES
CAPITULO XII
Dr Bernard Auriol
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A srta. Mézière (5) propõe um método que ela edificou
empiricamente e que deve tanto (ou mais) à intuição do que às descobertas da
neuropsicologia. Como o "rolfing", ele busca uma reestruturação do
corpo que deveria ser harmonioso na simetria, feliz em um funcionamento
unificado. Tratase de uma busca interior, de um esforço de síntese. 0 cliente
aprende a assumir seu corpo (a assumir se) e a transformá lo,
levando o da rigidez à docilidade, da dor ao relaxamento (1): luta paciente,
laboriosa, às vezes difícil, contra as deformações, os desvios raquidianos, a
rigidez da nuca, dos quadris, dos joelhos, dos pés, etc. Haveria em nosso
corpo uma espécie de desequilíbrio anatômico original entre as musculaturas
anterior e posterior. A frente seria menos bem dotada que as costas. Esse
primeiro desequilíbrio, seria
intensificado a nível funcional: exercitamos preferencialmente a musculatura
posterior, que estaria permanentemente tensionada por seus treze músculos
lombares. Assim, a maior parte de nossos contemporâneos têm um corpo encurtado,
como que comprimido sobre si mesmo pelo exagero das curvas normais da coluna
vertebral (2) , e uma descentralização das pernas que ficam em "rotação
interna", com freqüente deformação dos joelhos e dos pés. Uma respiração
"amarrada" em inspirar (pulmões que nunca estão realmente vazios)
acompanha essas deformações e indica sua origem em medos e angústias.
Essas "más atitudes" teriam como
conseqüência um bloqueio da circulação do sangue em diferentes setores, e uma
irritação do sistema nervoso vegetativo (3) (com os sintomas psicossomáticos
inevitavelmente ligados).
Para Françoise Mézières, toda a força de nossa vida
funcional vem das costas "Andamos com as costas”(4). Será necessário,
portanto, estirar a musculatura posterior, excessivamente forte e curta, e
diminuir a tensão das zonas encurtadas. Todo o plano muscular posterior
formaria uma única trama: os diferentes músculos são envolvidos por aponevroses
pouco elásticas, ligadas umas às outras e ricas em receptores nervosos. Uma
das chaves do método consiste em provocar um alongamento desse plano
aponevr6tico, dos pés à cabeça e de forma simultânea; enquanto na Hada Ioga
geralmente o monitor autoriza compensações (por exemplo, deixar os pés não
"em calcanhares" mas “em pontas”). Procura-se também durante o exercício
um perfeito alinhamento de crânio, ombros e nádegas. As aponevroses conectam se
com o restante do corpo através do tecido conjuntivo, que atualmente já não é
más considerado um simples material de preenchimento. Sua flexibilidade é
prova da juventude biológica do organismo.(Aliás, esta flexibilidade juventude
é variável entre as diversas regiões de um mesmo corpo.) 0 estiramento do plano
muscular é facilitado pela maior elasticidade do tecido conjuntivo, e
dificultado por seu espessamento. Assim, o trabalho de estiramento terá como
efeito não apenas habituar o músculo a menor tensão (relaxamento propriamente
dito), mas também
tornar flexível o tecido conjuntivo ao redor e no interior dos músculos
(fluidez). 0 "rolfing" procura o mesmo resultado através da
massagem.0 método Mézières é ativo, e consiste em produzir contrações
isométricas: pede se que o indivíduo contraia um grupo muscular mantido
em extensão por meios externos ou pela postura. A "fluidez"
corresponde, em física, ao conceito de elasticidade forçada (histerese); obtém se
o alongamento definitivo do plano muscular aponevrótico posterior se este
for submetido por tempo suficiente a uma tensão maior do que a tensão patológica
prévia.
Por outro lado,
existem “reflexos antálgicos a priori”(5). São automatismos de defesa
preventiva contra dores "ocultas", constituídos por atitudes viciosas,
inconscientes, destinadas a impedir constantemente a aparição dessas dores.
Reestabelecer as normas da estática vertebral e dos membros pode fazer
ressurgir essa dor escondida, causa implícita de sintomas geralmente situados à distância (" Reflexos à
distância", de Riederer; cf. também a neuralterapia). Também se propõe um
trabalho respiratório: procura se obter uma expiração duas vezes mais
longa que a inspiração e terminando num suspiro agradável. Não se admite
bloqueio respiratório durante os exercícios.
Muito freqüentemente o paciente chega em estado de stress, ansioso,
sentindo se mal e embaraçado em seu corpo dolorido e lesado, em estado de
hiper simpaticotonia (coração acelerado, respiração curta, constipação, etc.).
Durante a sessão individual de uma hora ou mais, ele apresenta reações, às
vezes violentas: crises de choro, gargalhadas, formigamento, câimbras, etc.
Depois da sessão, ele sente fome, frio, sono; sente se esgotado ou
simplesmente eufórico (reações parassimpáticas). Assim relaxado, poderá
progressivamente encontrar um equilíbrio neurovegetativo muito mais estável.
A srta. Mézières (6) costuma insistir nas
sutilezas e gradações de seu método: sessões progressivas, dosadas, adaptadas a
cada caso. Incentiva se o paciente a estar constantemente presente em seu
corpo (sobretudo ao nível das costas). É necessário vigiar para que ele não
trapaceie inconscientemente para evitar a dor,, à qual pode sucumbir como um
náufrago. No final do caminho, o "doente" terá aprendido a cenfiar em
seu
corpo
revalorizado, a reconhecê lo como "instrumento" da alegria de viver.
NOTAS
1. Será leitura de grande interesse a notável obra de T. BERTHERAT, Le corps a ses raisons, Autoguérison et anti gymnastique,
Seuil, 1976.
2. F. MÉZIÈRES,
"Importance de la statique vertébrale", in Cahiers de la méthode naturelle, n.° 51, 1972.
3. F. MÉZIÈRES,
"Méthodes orthopédiques" e "La fonction du sympathique",
in, Cahiers de Ia méthode naturelle, n.°
52 53, 1973.
4. F. MÉZIÈRES, "Les pieds
plats", Cahiers de Ia méthode
naturelle, n.° 49, 1972.
5. F. MÉZIÈRES,
"Le réflexe antalgique a priori", Cahiers
de Ia méthode naturelle, n.° 44, 1970.
6. Endereços
e informações práticas referentes a esse método podem ser obtidos no Institut
Mézières, Saint Mons par Aire sur Adour, Gers
France.