(CAPITULO XIII
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1. A INTEGRAÇÃO ESTRUTURAL
Corno em toda unidade biológica, existe um esquema de
organização no corpo humano. Este esquema é suscetível de aperfeiçoamento e
também, ao contrário, de degradação. Deixando de lado o desgaste do organismo
devido ao envelhecimento, isto significa que o corpo humano possui uma
plasticidade espantosa, e é sempre capaz de ser "incentivado" para
uma estrutura mais ordenada, portanto mais eficaz e que economize mais energia.
A integração estrutural é o processo que induz essa
passagem do corpo para um modelo melhor organizado. Seu objetivo global é
equilibrar as relações espaciais dos diferentes grupos musculares de forma a
criar uma simetria, ou melhor, uma relação harmoniosa entre o lado esquerdo e o
lado direito do corpo, a parte anterior e a parte posterior, a parte superior e
a parte inferior, e, por fim, entre as estruturas internas e externas. De fato,
é o conjunto do músculo e seu envoltório, (a mio fáscia) que nos interessa.
0 envoltório do músculo ou fáscia não é mais que uma qualidade especial do
tecido conjuntivo. 0 corpo pode ser imaginado como o conteúdo de um saco de
tecido (chamado conjuntivo) no qual os alvéolos, como uma colméia, determinam
espaços para os ossos, músculos e órgãos; o papel do tecido conjuntivo é
individualizar, e também garantir as junções, as relações. Papel de barreira,
de filtro, de sustentação, de proteção, mas também de ligação com todo o
organismo. Papel obscuro se comparado com a função especializada dos diversos
órgãos, mas que exige dele uma grande capacidade de adaptação. As fáscias devem
assegurar o deslizamento das massas musculares umas sobre as outras, repartir
os esforços de tração, as tensões. Portanto, a harmonia dos movimentos depende
da qualidade do seu trabalho.
0 tecido conjuntivo contém uma proteína que o torna plástico:
o colágeno, substância comparável à gelatina. Sabe se que quando seu nível
energético está baixo ele se enrijece; torna se fluido quando a situação
se inverte. Compreende se assim que as agressões internas (infecções,
distúrbios hereditários) ou externas (golpes, fraturas), por modificarem
a circulação e as trocas locais criam bloqueios energéticos, tensões que
se manifestam nos músculos por intermédio das fáscias.
Ao modelo parental das atitudes, dos hábitos
posturais, acrescenta se um modelo social do homem ou da mulher "do
momento", cuja estética nada tem a ver com uma boa qualidade de estrutura.
Esses modelos são facilmente incorporados pelas crianças. (A expressão “Tal
pai, tal filho” não se refere somente à hereditariedade genética.) Os móveis,
as roupas (os sapatos em especial), os automóveis, o local de trabalho e,
sobretudo, a ausência de educação da consciência do corpo, ajudam a instituir o
homem "normal", ou seja, médio. Pois então é "normal" ser
enrijecido, dolorido, sofrer de mil pequenos problemas que nem sequer serão
mencionados ao médico, pois sabe-se que ele também é uma vítima deles? 0
indivíduo não consegue transmitir a outrem mais do que seu próprio nível
pessoal de conhecimento ou de consciência.
A sabedoria dos povos registrou, em expressões
geralmente saborosas, a estreita relação entre emoções e atitudes. Algumas
pessoas assemelhamse a caricaturas de uma emoção (medo, cólera, timidez, arrogância)
que as marque particularmente. Note se que tais pessoas raramente estão
conscientes dessa situação. Conscientes, elas seriam menos vítimas ... Se uma
emoção foi reprimida e não se pôde exprimir, ou se não foi bastante alimentada,
a atitude correspondente torna se crônica com suas dificuldades próprias,
tanto psicológicas como físicas. Nenhuma alteração da estrutura física é
estritamente local. 0 corpo todo se adapta a uma situação local. Ele compensa.
Se você tiver de engessar a perna por algum tempo, logo notará todas as tensões
que surgem em diferentes locais do corpo para compensar esse aumento unilateral
de peso. Assim, a imagem do corpo normal é a de uma estrutura organizada
especialmente, de forma coerente, não há dúvida, mas cujo equilíbrio custa caro
demais; tanto mais caro quanto mais desorganizado estiver o corpo em relação à
vertical. A energia despendida para a simples manutenção da estrutura básica
não estará disponível no momento da ação.
Eis
assim explicados:
o mecanismo de ação do “Rolfing”: plasticidade
reversível do tecido conjuntivo, obtenção de uma coerência de tensões em
harmonia com a força da gravidade, atenção às compensações no corpo todo;
seu campo de ação: experiência de liberação de
tensões crônicas e de suas conseqüências psicofísicas
sua originalidade: ação direta na estrutura, ao
contrário das terapias funcionais, que são químicas ou reflexas.
Do ponto de vista prático, considera se uma
série de dez sessões de aproximadamente sessenta (60) minutos como o mínimo
indispensável. para a revisão completa de todo o corpo. Esse trabalho se
estende geralmente por um período de um a quatro meses. Um trabalho adicional
pode ser efetuado quando os efeitos do primeiro ciclo estão totalmente
integrados (o que leva geralmente de seis a doze meses) e de acordo com o
desejo e as necessidades individuais, a idade, os incidentes nos intervalos,
etc
Cada sessão é centrada em um objetivo bastante
preciso. A prática deve adaptar se a cada caso: embora existam os grandes
tipos morfológicos, cujos desvios característicos já foram bem estudados,
especialmente por William Sheldon no começo do século, não se deve esquecer que
cada indivíduo é único[2].
A primeira sessão consiste em liberar a respiração,
etapa primordial que permite uma melhor oxigenação do organismo. A sessão
seguinte procura estabelecer uma relação eficaz entre os pés e o solo: em toda
construção, começa se pelos alicerces. Em seguida trabalha se para
equilibrar os lados, depois as pernas, o ventre e o tórax, e finalmente a
cabeça e os ombros. Este é um esquema grosseiro, superado a cada vez. As
costas, por exemplo, são trabalhadas em todas as sessões, a fim de integrar a
todo o corpo a liberdade adquirida em uma de suas partes. Esta noção de
integração é fundamental. Ela se realiza pouco a pouco, sobretudo nas três
últimas sessões. De fato, existem muitas técnicas capazes de "des integrar"
o indivíduo, mas poucas que se preocupam em juntar os pedaços de maneira
coerente e, se possível, mais eficaz que antes.
A técnica é difícil de explicar, e tem características
tanto de escultura ao vivo como de massagem profunda. Além do mais, ela está em
constante evolução. No decorrer das sessões, emoções e dores costumam
ressurgir, mas são enfrentadas sob uma ótica totalmente nova. Para isso, deve
haver um bom relacionamento entre o paciente e o terapeuta, para que trabalhem
em pé de igualdade com a maior confiança e abertura de espírito. Essa relação
privilegiada constitui, a meu ver, uma parte fundamental da experiência.
Concordar em fazer desaparecerem determinadas tensões
é um pouco deixar morrer uma parte de si, para se tornar mais novo, mais
presente. É essa presença que se desenvolve no decorrer do processo. 0
indivíduo passa a habitar cada vez mais seu corpo, descobre o, toma consciência
dele de uma forma que antes nem sequer podia imaginar. Uma vez realinhado, o
organisino. humano é reforçado, e não destruído, pela energia representada pela
gravidade, energia essa que nos influencia permanentemente durante nossa vida
na terra. A modificação da consciência do corpo (e das interações emoções atitudes)
contribui com uma boa parcela para a perpetuação desse estado de bem-estar.
Iniciada com a ajuda do terapeuta, a auto educação é permanente. Em uma
civilização que ignora qualquer contato físico que não o sexual, o próprio
fato de ser tocado e movido no mais profundo de seu corpo e de suas emoções é
uma experiência enriquecedora.
Em termos globais, o que esperar deste método? Por um
lado, o alívio de alguns problemas físicos, cuja causa é, antes de tudo, uma
desordem estrutural: todas as dores dorsais, as tensões musculares, os
enrijecimentos articulares e suas conseqüências (enxaquecas, dificuldades
respiratórias, distúrbios circulatórios, digestivos, cutâneos). Por outro lado,
a nível psicológico, uma maior confiança em si, um desprendimento com relação
às dificuldades exteriores, unia maior descontração, são constantemente observados.
A pessoa encontra seu ritmo e o respeita.
Além dessas constatações gerais, cada indivíduo vive
uma liberação relacionada especificamente com sua história pessoal.
Freqüentemente, o comportamento com relação ao trabalho, ao ritmo e ao lugar de
vida, à sexualidade e às relações humanas, sofre mudanças profundas.
2. O “ ROLFING ” EM PRATICA
Ida Rolf, uma americana de 82 anos, desenvolveu este
método durante os trinta últimos anos. Há oito anos que seu ensino é ministrado
pelo Rolf Institute of Structural
Integration (P.0. box 1868 Boulder Colorado, 80306), que formou cerca de
duzentos "rolfistas". A maior parte deles estão espalhados nos E.U.A.
e no Canadá. Na Europa, você poderá dirigir se a:
em
Londres: Darcey Ortoff c/o Quacsitor 187 Walm Lawe, London N.W. 2.
em
Amsterdã: Bren Jacobson c/o Center Kromme Waal 14, Amsterdam 1001.
em Frankfurt: David Campsbell Sachsenlager 93 Frankfurt 6.
em Toulouse: Michel Ginoulhac 19 bis, rue Volta, 31000
–Toulouse.
Aston Patterrning[3]
0 "patterning" se desenvolveu em conjunto
com o "rolfing", em face da necessidade de ensinar ao paciente como
aproveitar ao máximo seu corpo, que é diferente dos outros. É, como o rolfing,
uma técnica individual: uma mesma
diretiva não se aplica a duas pessoas diferentes.
Trabalha se a consciência do corpo, em
movimentos sutis, e depois nos movimentos cotidianos: sentar, levantar, abrir
uma janela, trabalhar, praticar um esporte, e finalmente em massagens leves. 0
corpo é sentido como muito mais vibrante, centrado, eficaz e feliz.
A formação de terapeutas é feita na Califórnia (Aston Patterning,
PO. box 114 Tiburon California 94920). No momento, ninguém a
exerce na Europa. Brevemente talvez ...
3. A TÉCNICA ALEXANDER
Dentro de um espírito semelhante, existe, desde o
começo do século, uma técnica de educação da consciência corporal. Mathias
Alexander, um ator com dificuldades de elocução, observou a relação entre a
posição do pescoço e da cabeça e suas possibilidades de expressão. Pouco a
pouco, ele organizou um método que, através da sensibilização muito sutil dessa
relação, consegue influir no conjunto da postura e assim modificar também o
equilíbrio tensional e emocional do indivíduo.
Essa técnica cheia de sutilezas, demora para ser
assimilada: três anos de estudos em Londres.
Dirigir se, em Paris, à R. Cooper 345707, que a
pratica também em Genebra: Greg, 3, Place Jargonnant.
Não se deve confundir a técnica de Mathias Alexander
com a de Gerda Alexander (cf. Eutonia), apesar de algumas comparações possíveis[4].
4. 0 RELAXAMENTO PELO CONTATO PELE A PELE
É evidente que o orgasmo quando se consegue atingi lo
e quando ele é desejado proporciona uma descontração maravilhosa, e constitui
uma excelente "técnica" (?) de relaxamento. No entanto, muitos outros
contatos pele a pele podem ocorrer sem que haja vontade, ou mesmo desejo de
relacionamento sexual. Esta observação é evidente, mas acabou por não mais
o ser, devido às precauções que procuram defender o indivíduo contra “suas
paixões”, em uma perspectiva moralizante.
A massagem californiana é a prática sistemática da constatação que acabo de enunciar. Consiste em ensinar a utilizar as mãos para proporcionar o relaxamento e a satisfação do outro, a se entregar também às mãos daquele que massageia e que dá. Qualquer pessoa pode utilizar, no contexto de sua vida cotidiana, essas técnicas de massagem. Elas têm a vantagem de fazer com que o relaxamento saia de seu contexto habitual, geralmente muito individualista. Existe um excelente livro que aconselho como “Manual” de massagens[5], no caso de este breve resumo ter conseguido despertar o interesse do leitor.
[1] I. ROLF, What in the world is
Rolfing?, Rolf Institute of Structural Integration, Bouldece, Colorado,
1976; Rolfing, the integration of human
structures, DennisLandman Pub., Santa Mônica (Califórnia), 1977.
[2] W. SHELDON, Les variétés de la
constitution physique de l’homme, P.U.F., Paris, 1950; Les variétés du
tempérament, P.U.F., Paris, 1951.
[3] PATTERN: esquema, modelo, padrão. Utilizado aqui no sentido de "hábito de funcionamento". Poderia ser traduzido por "esquema de movimento", recorrendo ao sentido dado por A. Burloud à palavra esquema.
[4] J.G. HENROTTE, "Prefácio" do livro de G. ALEXANDER, Le corps retrouvé par l’eutonie, Tchou, 1977, p. 13
[5] G. DOWNING e A. RUSH, Le massage euphorique, massez vous Ies uns les autres, Hachette, 1973. Agradeço o casal amigo que me ofereceu esse livro