A INTEGRAÇÃO ESTRUTURAL OU "ROLFING" [1]

 

(CAPITULO XIII)

Dr Bernard Auriol

 



 

1. A INTEGRAÇÃO ESTRUTURAL

 

Corno em toda unidade biológica, existe um esquema de organização no corpo humano. Este esquema é suscetível de aperfeiçoamento e também, ao contrário, de degradação. Deixando de lado o desgaste do organismo devido ao envelhecimento, isto significa que o corpo humano possui uma plasticidade espantosa, e é sempre capaz de ser "incentivado" para uma estrutura mais ordenada, portanto mais eficaz e que economize mais energia.

A integração estrutural é o processo que induz essa passagem do corpo para um modelo melhor organizado. Seu objetivo global é equilibrar as relações espaciais dos diferentes grupos musculares de forma a criar uma simetria, ou melhor, uma relação harmoniosa entre o lado esquerdo e o lado direito do corpo, a parte anterior e a parte posterior, a parte superior e a parte inferior, e, por fim, entre as estruturas internas e externas. De fato, é o conjunto do músculo e seu envoltório, (a mio fáscia) que nos interessa. 0 envoltório do músculo ou fáscia não é mais que uma qualidade especial do tecido conjuntivo. 0 corpo pode ser imaginado como o conteúdo de um saco de tecido (chamado conjuntivo) no qual os alvéolos, como uma colméia, determinam espaços para os ossos, músculos e órgãos; o papel do tecido conjuntivo é individualizar, e também garantir as junções, as relações. Papel de barreira, de filtro, de sustentação, de proteção, mas também de ligação com todo o organismo. Papel obscuro se comparado com a função especializada dos diversos órgãos, mas que exige dele uma grande capacidade de adaptação. As fáscias devem assegurar o deslizamento das massas musculares umas sobre as outras, repartir os esforços de tração, as tensões. Portanto, a harmonia dos movimentos depende da qualidade do seu trabalho.

0 tecido conjuntivo contém uma proteína que o torna plástico: o colágeno, substância comparável à gelatina. Sabe se que quando seu nível energético está baixo ele se enrijece; torna se fluido quando a situação se inverte. Compreende se assim que as agressões internas (infecções, distúr­bios hereditários) ou externas (golpes, fraturas), por modificarem a circu­lação e as trocas locais criam bloqueios energéticos, tensões que se mani­festam nos músculos por intermédio das fáscias.

Ao modelo parental das atitudes, dos hábitos posturais, acrescenta se um modelo social do homem ou da mulher "do momento", cuja estética nada tem a ver com uma boa qualidade de estrutura. Esses modelos são facilmente incorporados pelas crianças. (A expressão “Tal pai, tal filho” não se refere somente à hereditariedade genética.) Os móveis, as roupas (os sapatos em especial), os automóveis, o local de trabalho e, sobretudo, a ausência de educação da consciência do corpo, ajudam a instituir o homem "normal", ou seja, médio. Pois então é "normal" ser enrijecido, dolorido, sofrer de mil pequenos problemas que nem sequer serão mencio­nados ao médico, pois sabe-se que ele também é uma vítima deles? 0 indivíduo não consegue transmitir a outrem mais do que seu próprio nível pessoal de conhecimento ou de consciência.

A sabedoria dos povos registrou, em expressões geralmente saborosas, a estreita relação entre emoções e atitudes. Algumas pessoas assemelham­se a caricaturas de uma emoção (medo, cólera, timidez, arrogância) que as marque particularmente. Note se que tais pessoas raramente estão cons­cientes dessa situação. Conscientes, elas seriam menos vítimas ... Se uma emoção foi reprimida e não se pôde exprimir, ou se não foi bastante ali­mentada, a atitude correspondente torna se crônica com suas dificuldades próprias, tanto psicológicas como físicas. Nenhuma alteração da estrutura física é estritamente local. 0 corpo todo se adapta a uma situação local. Ele compensa. Se você tiver de engessar a perna por algum tempo, logo notará todas as tensões que surgem em diferentes locais do corpo para compensar esse aumento unilateral de peso. Assim, a imagem do corpo normal é a de uma estrutura organizada especialmente, de forma coerente, não há dúvida, mas cujo equilíbrio custa caro demais; tanto mais caro quanto mais desorganizado estiver o corpo em relação à vertical. A energia despendida para a simples manutenção da estrutura básica não estará disponível no momento da ação.

Eis assim explicados:

 o mecanismo de ação do “Rolfing”: plasticidade reversível do tecido conjuntivo, obtenção de uma coerência de tensões em harmonia com a força da gravidade, atenção às compensações no corpo todo;

 seu campo de ação: experiência de liberação de tensões crônicas e de suas conseqüências psicofísicas

 sua originalidade: ação direta na estrutura, ao contrário das terapias funcionais, que são químicas ou reflexas.

 

Do ponto de vista prático, considera se uma série de dez sessões de aproximadamente sessenta (60) minutos como o mínimo indispensável. para a revisão completa de todo o corpo. Esse trabalho se estende geralmente por um período de um a quatro meses. Um trabalho adicional pode ser efetuado quando os efeitos do primeiro ciclo estão totalmente integrados (o que leva geralmente de seis a doze meses) e de acordo com o desejo e as necessidades individuais, a idade, os incidentes nos intervalos, etc

Cada sessão é centrada em um objetivo bastante preciso. A prática deve adaptar se a cada caso: embora existam os grandes tipos morfológicos, cujos desvios característicos já foram bem estudados, especialmente por William Sheldon no começo do século, não se deve esquecer que cada indivíduo é único[2].

A primeira sessão consiste em liberar a respiração, etapa primordial que permite uma melhor oxigenação do organismo. A sessão seguinte pro­cura estabelecer uma relação eficaz entre os pés e o solo: em toda cons­trução, começa se pelos alicerces. Em seguida trabalha se para equilibrar os lados, depois as pernas, o ventre e o tórax, e finalmente a cabeça e os ombros. Este é um esquema grosseiro, superado a cada vez. As costas, por exemplo, são trabalhadas em todas as sessões, a fim de integrar a todo o corpo a liberdade adquirida em uma de suas partes. Esta noção de integração é fundamental. Ela se realiza pouco a pouco, sobretudo nas três últimas sessões. De fato, existem muitas técnicas capazes de "des integrar" o indivíduo, mas poucas que se preocupam em juntar os pedaços de maneira coerente e, se possível, mais eficaz que antes.

A técnica é difícil de explicar, e tem características tanto de escultura ao vivo como de massagem profunda. Além do mais, ela está em constante evolução. No decorrer das sessões, emoções e dores costumam ressurgir, mas são enfrentadas sob uma ótica totalmente nova. Para isso, deve haver um bom relacionamento entre o paciente e o terapeuta, para que trabalhem em pé de igualdade com a maior confiança e abertura de espírito. Essa relação privilegiada constitui, a meu ver, uma parte fundamental da expe­riência.

Concordar em fazer desaparecerem determinadas tensões é um pouco deixar morrer uma parte de si, para se tornar mais novo, mais presente. É essa presença que se desenvolve no decorrer do processo. 0 indivíduo passa a habitar cada vez mais seu corpo, descobre o, toma consciência dele de uma forma que antes nem sequer podia imaginar. Uma vez rea­linhado, o organisino. humano é reforçado, e não destruído, pela energia representada pela gravidade, energia essa que nos influencia permanente­mente durante nossa vida na terra. A modificação da consciência do corpo (e das interações emoções atitudes) contribui com uma boa parcela para a perpetuação desse estado de bem-estar. Iniciada com a ajuda do tera­peuta, a auto educação é permanente. Em uma civilização que ignora qual­quer contato físico que não o sexual, o próprio fato de ser tocado e movido no mais profundo de seu corpo e de suas emoções é uma experiência enri­quecedora.

Em termos globais, o que esperar deste método? Por um lado, o alívio de alguns problemas físicos, cuja causa é, antes de tudo, uma desordem estrutural: todas as dores dorsais, as tensões musculares, os enrijecimentos articulares e suas conseqüências (enxaquecas, dificuldades respiratórias, distúrbios circulatórios, digestivos, cutâneos). Por outro lado, a nível psico­lógico, uma maior confiança em si, um desprendimento com relação às dificuldades exteriores, unia maior descontração, são constantemente obser­vados. A pessoa encontra seu ritmo e o respeita.

Além dessas constatações gerais, cada indivíduo vive uma liberação relacionada especificamente com sua história pessoal. Freqüentemente, o comportamento com relação ao trabalho, ao ritmo e ao lugar de vida, à sexualidade e às relações humanas, sofre mudanças profundas.

 

2. O “ ROLFING ” EM PRATICA

 

Ida Rolf, uma americana de 82 anos, desenvolveu este método durante os trinta últimos anos. Há oito anos que seu ensino é ministrado pelo Rolf Institute of Structural Integration (P.0. box 1868 Boulder Colorado, 80306), que formou cerca de duzentos "rolfistas". A maior parte deles estão espalhados nos E.U.A. e no Canadá. Na Europa, você poderá dirigir se a:

           em Londres: Darcey Ortoff  c/o Quacsitor 187 Walm Lawe, London N.W. 2.

   em Amsterdã: Bren Jacobson  c/o Center Kromme Waal 14, Amsterdam 1001.

em Frankfurt: David Campsbell Sachsenlager 93  Frankfurt 6.

em Toulouse: Michel Ginoulhac  19 bis, rue Volta, 31000 –Toulouse.

 

Aston Patterrning[3]

 

0 "patterning" se desenvolveu em conjunto com o "rolfing", em face da necessidade de ensinar ao paciente como aproveitar ao máximo seu corpo, que é diferente dos outros. É, como o rolfing, uma técnica indivi­dual: uma mesma diretiva não se aplica a duas pessoas diferentes.

 

Trabalha se a consciência do corpo, em movimentos sutis, e depois nos movimentos cotidianos: sentar, levantar, abrir uma janela, trabalhar, praticar um esporte, e finalmente em massagens leves. 0 corpo é sentido como muito mais vibrante, centrado, eficaz e feliz.

A formação de terapeutas é feita na Califórnia (Aston Patterning, PO. box 114  Tiburon  California 94920). No momento, ninguém a exerce na Europa. Brevemente talvez ...

 

3. A TÉCNICA ALEXANDER

 

Dentro de um espírito semelhante, existe, desde o começo do século, uma técnica de educação da consciência corporal. Mathias Alexander, um ator com dificuldades de elocução, observou a relação entre a posição do pescoço e da cabeça e suas possibilidades de expressão. Pouco a pouco, ele organizou um método que, através da sensibilização muito sutil dessa re­lação, consegue influir no conjunto da postura e assim modificar também o equilíbrio tensional e emocional do indivíduo.

Essa técnica cheia de sutilezas, demora para ser assimilada: três anos de estudos em Londres.

Dirigir se, em Paris, à R. Cooper 345707, que a pratica também em Genebra: Greg, 3, Place Jargonnant.

Não se deve confundir a técnica de Mathias Alexander com a de Gerda Alexander (cf. Eutonia), apesar de algumas comparações possíveis[4].

 

4. 0 RELAXAMENTO PELO CONTATO PELE A PELE

 

É evidente que o orgasmo quando se consegue atingi lo e quando ele é desejado proporciona uma descontração maravilhosa, e constitui uma excelente "técnica" (?) de relaxamento. No entanto, muitos outros contatos pele a pele podem ocorrer sem que haja vontade, ou mesmo desejo de relacionamento sexual. Esta observação é evidente, mas acabou por não mais o ser, devido às precauções que procuram defender o indivíduo contra “suas paixões”, em uma perspectiva moralizante.

A massagem californiana é a prática sistemática da constatação que acabo de enunciar. Consiste em ensinar a utilizar as mãos para proporcionar o relaxamento e a satisfação do outro, a se entregar também às mãos daquele que massageia e que dá. Qualquer pessoa pode utilizar, no contexto de sua vida cotidiana, essas técnicas de massagem. Elas têm a vantagem de fazer com que o relaxamento saia de seu contexto habitual, geralmente muito individualista. Existe um excelente livro que aconselho como “Manual” de massagens[5], no caso de este breve resumo ter conseguido despertar o interesse do leitor.

 

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Psychosonique Yogathérapie Psychanalyse & Psychothérapie Dynamique des groupes Eléments Personnels

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6 Décembre 2002



[1] I. ROLF, What in the world is Rolfing?, Rolf Institute of Structural Integration, Bouldece, Colorado, 1976; Rolfing, the integration of human structures, Dennis­Landman Pub., Santa Mônica (Califórnia), 1977.

[2] W. SHELDON, Les variétés de la constitution physique de l’homme, P.U.F., Paris, 1950; Les variétés du tempérament, P.U.F., Paris, 1951.

[3] PATTERN: esquema, modelo, padrão. Utilizado aqui no sentido de "hábito de funcionamento". Poderia ser traduzido por "esquema de movimento", recor­rendo ao sentido dado por A. Burloud à palavra esquema.

[4] J.G. HENROTTE, "Prefácio" do livro de G. ALEXANDER, Le corps retrouvé par l’eutonie, Tchou, 1977, p. 13

[5] G. DOWNING e A. RUSH, Le massage euphorique, massez vous Ies uns les autres, Hachette, 1973. Agradeço o casal amigo que me ofereceu esse livro