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1. A RESPIRAÇÃO DINÃMICA RELAXANTE
A reeducação é um dado clássico na terapia da asma. No entanto, como observa
Courchet, os exercícios ensinados pelos cinesioterapeutas freqüentemente são
negligenciados ou rapidamente abandonados pelo paciente, de forma que seus
efeitos acabam sendo muito pequenos.
Basicamente, procura se obter o que os fisiologistas chamam "ventilação
em modo paradoxal": a expiração torna se um tempo ativo, voluntário,
enquanto que a inspiração é espontânea. Por outro lado, conduz se o paciente
a diminuir o máximo possível seu ritmo respiratório[1].
Pode se recorrer a tranqüilizantes com esse objetivo[2].
Obtêm se assim ritmos lentos ou muito lentos (dois ciclos por minuto), construídos
da seguinte maneira:
inspiração
= um tempo;
parada
com os pulmões cheios = dois tempos;
expiração
= um tempo;
parada com os pulmões vazios um tempo.
A duração
de cada elemento desse ritmo aumenta progressivamente. A diminuição do ritmo
tem um efeito calmante, relaxante, e reduz o gasto de energia graças ao decréscimo
do "trabalho" ventilatório[3]
& [4].
Para favorecer o tempo expiratório (fase relaxada e relaxante) dos asmáticos,
Courchet recomenda técnicas próximas a essa (clássica) que acabo de resumir,
utilizando elementos extraídos do Pranayama da Ioga (via sofrologia). Ele
utiliza como fio condutor, sob forma auditiva, visual, etc., as palavras "Expire"
(em francês: "Soufflez"), "Novamente" ("Encore");
"Esvazie o ventre" ( “Videz le ventre”); “Novamente” ("Encore").
Tenta obter um condicionamento baseado nas iniciais desse fio condutor: S.E.V.E.
(“sève significa "seiva" em francês). Insiste no caráter simbólico
dessas iniciais que sugerem renovação, primavera, sol, saúde, vigor, juventude;
em resumo, sugerem vida! Muito freqüentemente ele utiliza o Treinamento Autógeno
como preparação para sua própria técnica. Em seguida vêm os dois estágios
da Respiração Dinâmica Relaxante (R.D.R.). 0 primeiro estágio é baseado na
tomada de consciência de todas as sensações e de todos os elementos do corpo
que intervêm na respiração em modo paradoxal. 0 segundo estágio consiste em
uma espécie de meditação sobre as trocas entre os volumes de ar pulmonar,
limitado, e o exterior, ilimitado. Pratica se também um exercício respiratório
em ritmo coletivamente sincronizado, inspirado na marcha sincrônica da prática
Zen (Kinin). Vários elementos convergem para um relaxamento geral: o tom de
voz suave, homogêneo, grave, com harmônicos elevados; os exercícios, o ambiente,
o aumento de gás carbônico arterial devido às pausas respiratórias, etc. 0
trabalho em grupo contém um aspecto tranqüilizador, e permite trocas verbais
após a sessão. Esse método parece ser muito mais eficaz e com resultados incomparavelmente
mais estáveis do que a reeducação clássica. Entretanto, não é aplicável em
portadores de insuficiências respiratórias devidas a problema cardíaco. Aliás,
Courchet prefere desaconselhá lo a indivíduos excessivamente propensos à hiperexpressividade
emocional.
*****
Ao contrário, os alunos de Reich utilizam a hiperpnéia[5]
com o objetivo de obter uma livre circulação de energia psicossomática ("orgônio")
de acordo com o eixo vertical do corpo. Recomenda se, por exemplo, "respirar
sem esforço, ou seja, não fazer exercícios respiratórios". Procura se conseguir (e
diversas técnicas auxiliam nisso) a respiração natural, na qual "os ombros
ficam relaxados", assim como o abdômen. Reich observa que a "expiração
profunda produz espontaneamente a atitude de abandono (sexual)". Sua
retenção é uma das formas neuróticas de controle dos impulsos agressivos e
eróticos.
Janov declara utilizar a "respiração profunda para conduzir o paciente
para mais perto de seus próprios sentimentos”, mais perto do sofrimento profundo
que (nessa teoria) a respiração superficial permitiria guardar reprimido.
Ele fala em "respiração conflitual" para designar o aumento de ventilação
que ocorre quando, tendo o paciente pronunciado sons inarticulados a partir
de sua angústia, esta acaba por ultrapassá lo; ele "é tomado por um resfolegar
profundo que tem algo de animal" e acaba por assemelhar se ao barulho
de uma locomotiva. Em seguida exprime se o sofrimento, e chega se assim
ao relaxamento e à “normalidade”(na teoria do autor).
A Bio energia de Lowen utiliza também a respiração profunda e a hiperpnéia
para fazer com que as emoções se exprimam, e para detectar e tratar locais
contraídos do corpo.
Pesquisas psico fisiológicas demonstraram que a hiperventilação tem como
efeito[6]:
1. provocar redução da vigilância
ou perda de consciência[7];
2. reduzir a atividade psicomotora
(50% em 1/2 h);
3. aumentar
a tolerância à dor, e auxiliar a ação dos medicamentos analgésicos;
4. reduzir a agressividade e
a ansiedade;
5. provocar uma ligeira euforia;
6. reduzir as sensações provenientes
dos órgãos.
A nível fisiológico, observa se uma redução do débito sangüíneo cerebral,
um aumento do oxigênio arterial com relação ao oxigênio venoso, uma alcalínização
do sangue em conseqüência da redução do gás carbônico[8].
Constata se também um aumento paradoxal de ácido lático e de ácido piruvico
no cérebro, o que vem confirmar a hipótese de que há menor oxigenação das
células cerebrais quando a hiperventilação é muito grande. Por outro lado
o volume do cérebro diminui, devido à redução da quantidade de sangue. Está
comprovado que as diferentes formas errôneas de respirar são a causa de pacientes
ansiosos, deprimidos, neuróticos[9],
etc. 0 obsessivo teria tendência a
se hipoventilar, enquanto o histérico tenderia à hiperventilação (como o asmático)[10].
Os inadaptados também teriam um ritmo acelerado, enquanto os autistas diminuem
a amplitude de respiração[11].
0 fato de obrigar o paciente a expirar totalmente (por um apoio na parte baixa
do tórax) acarreta, em uma grande proporção dos casos, um relaxamento emocional
acompanhado de choro e da revelação de acontecimentos marcantes do passado[12].
2.
0 "REBIRTH"
A técnica do "Rebirth", que Sokolov prefere chamar de "técnica
do sopro original", em referência ao taoísmo, procura reviver a experiência
respiratória do nascimento (os taoístas chegam a falar em respiração embrionária).
Demonstrou se que o feto executa movimentos respiratórios a partir do terceiro
mês de gravidez, durante as fases de sono agitado. Tratase de movimentos
muito fracos, devido às resistências do meio aquático (menos de um centímetro
cúbico de líquido deslocado em cada ciclo)[13].
Por outro lado, a composição do sangue fetal quanto ao oxigênio é inferior
à do recém nascido[14].
Assim como Jacobson obtém o relaxamento muscular depois de ter sido praticada
a contração, o "Rebirth" obtém a respiração "natural"
depois de ter exigido uma respiração de stress. De fato, trata se de respirar
pela parte alta do tórax, muito forte e depressa, preocupando se essencialmente
com a inspiração. Deve se manter a boca aberta. Esse tipo de respiração acarreta,
em 100% dos indivíduos, uma crise espasmofílica quando uma alcalose muito
intensa é obtida no sangue arterial (ocorre então diminuição de cálcio plasmático
ionizado, alteração dos fenômenos elétricos ao nível das células devido à
fuga de potássio para o exterior, redução da quantidade de sangue que chega
ao cérebro e redução do volume deste[15]), Observase
freqüentemente uma queda da tensão arterial e uma aceleração do pulso; podem
ocorrer zumbidos ou assobios no ouvido, perturbações visuais, sensações de
picada, formigamento, câimbras, etc. 0 objetivo da técnica não está, obviamente,
nestes fenômenos desagradáveis.
Podem aparecer então diversos fenômenos emocionais de tipo extremamente
arcaico, como cóleras de bebê, gritos, lágrimas, movimentos de sucção dos
lábios, um sono imperioso, estados de maior ou menor estupor, fenômenos alucinatórios,
etc. Muitas vezes, pude reconhecer a explosão “primal” tal como a descreve
A. Janov, com postura de flexão súbita seguida de um grito indescritível de
dor. Alguns indivíduos revivem, notadamente ao nível das sensações da pele
e dos músculos, da respiração, dos gritos, o que parece ser um novo “nascimento”,
ou melhor, a revivência de seu nascimento. Depois de ultrapassada essa vivência
arcaica, deixa se a respiração encontrar seu ritmo natural. Ela toma características
muito particulares (lenta, com um som muito suave) e é acompanhada de impressões
geralmente intensas de felicidade, alegria, paz, descanso, luz, abolição do
tempo, etc. Todos esses são elementos próximos dos estados autógenos avançados
ou dos estados místicos.
0 desenrolar de uma sessão coincide às vezes com a descrição da grande
crise de histeria descrita por Charcot[16]
:
-
pródromos;
-
período de contorções "grotescas";
- período
de transe, com atitudes passionais.
Se é verdade, como a experiência faz crer, que a técnica do "Rebirth"
é útil e cura determinados distúrbios, seria necessário concluir então que
a crise de histeria é uma tentativa espontânea de um organismo em dificuldades
para encontrar sua própria cura.
Cada sessão de "Rebirth" dura entre uma e quatro horas (às vezes
mais). São suficientes algumas sessões (umas dez) para obter importantes efeitos
terapêuticos sobre certos distúrbios respiratórios, alérgicos, psicofouncionais.
Os indivíduos espasmofílicos apresentarão grande melhora, os deprimidos (inclusive
os melancólicos[17]),
encontram um otimismo e uma animação surpreendentes. No estado atual das observações[18], não é aconselhável
praticar esta técnica em indivíduos que já apresentaram experiências de alucinações
ou delírio espontâneo, ou que têm baixa tolerância a tóxicos que provocam
tais fenômenos (álcool, maconha, LSD, etc.).
3.
A MEDITAÇÃO DINÃMICA CAÓTICA DE BAGWAN RAJNEESH
Ela consiste em obter certos estados de relaxamento e cessação do pensamento,
por meio de uma técnica dividida em várias etapas:
Segundo Bagwan, este método, muito ativo pelo seu processo caótico, libera
nossas tensões adquiridas durante séculos de civilização. Ele permite que
o ocidental saia de seu personagem sério demais, que o oprime. 0 corpo, arrastado
pela música, vive um verdadeiro transe[19];
o círculo de pensamentos pára, e há uma intensa vivência silenciosa do corpo.
R. Toupotte demonstrou[20]
que essa técnica proporciona um grande bem estar, caracterizado assim pelos
participantes (terapeutas em formação): “esquecimento de tudo, alegria do
corpo, tranqüilidade"[21].
Bagwan está se tornando cada vez mais famoso; assim, é provável que nos
próximos anos esta técnica alcance ampla divulgação.
[1]
A aceleração e a diminuição do
ritmo são comandadas por diferentes zonas da substância reticulada, da qual
Magoun (in Le cerveau éveillé, P.U.F.,
1960) mostrou o papel eminente na vigilância e na sonolência, estados que
dependem da quantidade de informação não específica e não uniforme por unidade
de tempo.
[2] J.M. Dubois de Montreynaud e col., "La méthode de respiration volontairement ralentie sous diazépam", in Vie Médicale, 11 mar. 1975, 3, pp. 983 e s.
[3] P. Drutel, "Etat des recherches en physiologie pulmonaire", in C.M., 1 X 66, 88 40, pp. 5731 e s.
[4] Habitualmente, na respiração há um
momento ativo de inspiração, seguido pela evacuação de ar que se faz por si só,
graças à elasticidade dos pulmões e do tórax. Isso explica o fato de a fase
expiratória ser geralmente mais longa que a fase inspiratória. No final da
expiração, atinge se o equilíbrio das pressões entre os pulmões e o meio
externo. Os fisiologistas falam de "volume de relaxamento" (no
sentido da mecânica). Vários obstáculos podem se opor à expiração
espontânea: tensão dos músculos inspiratórios, tensões na passagem do ar
(garganta, cordas vocais, brônquios, etc.). Ver P. DEJOURS,
"Respiration", in Physiologie de C. Kayser, Flammarion, 1963, t, III.
[5]
W. Reich, La fonction de
1'orgasme, L'Arche, 1970, pp. 259 e s.; A. Lowen, Le plaisir, Tchou, 1976 pp.
27 e s.; A. Janov, Le cri primal, Flammarion, 1975,pp 132 e s.
[6] Rheault e col., "Effets
de 1'hyperventilation sur le cerveau", in Union Médicale du Canada, jul.
1967, t. 96, pp. 887 e s.; S. Semple, "Respiration and the cerebrospinal
fluid", in Brit. J. Anaest., 1965, 37 262, jul. 1965.
[7] A hiperventilação de curta duração foi utilizada para induzir a hipnose. Segundo KRESS e RITTER, "Hypnose en thérapeutique psychiatrique", E.M.C., set. 1969, 37820 B 50, t. 5.
[8] M. Christensen e col., "Cerebral apoplexy treated with or without
prolonged artificial hyperventilation", 2.° art. in Stroke, jul. 1973, vol. 4, pp. 620 631; H. Rosomoff,
"Distribution of intracranial contents with controlled hyperventilation",
Anaesthesiol., set. 1963, 24, pp. 640
e s.; H. Wyama e col., "Effect of hyperventilation on c.r. fluid pressure
and brain volume", in Anaesth.
Analgesia, 1963, 42, 581; L. Granholm, "Cerebral effects of
hyperventilation", in Acta Physiol.
Scandinav., 1971, 81, 307.
[9] 0 volume de ar deslocado por cada
respiração varia de 1/2 litro a 2 litros. 0 número de respirações por minuto
pode ser de dois a vinte e dois (em repouso).
[10] B. Burns e J. Howell, "Disproportionately severe breathlessness in
chronic bronchitis", Quarterly J. of Med., jul. 1969, new series XXXVIII,
151, pp. 277-294; R. Kinsman e col., "Subjective symptoms of acute asthma
within a heterogeneous sample of asthmatics", in J. Allergy Clin.
Immunol., nov. 1973, vol. 52, 5, pp. 284 e s.
[11] G. Lelord e col., "Introduction
à une technique de rééducation de la personne en psychiatrie", in A.M.P.,
nov. 1970, t. II, 128.° A 4, p. 481.
[12] B. Lewis, "Hyperventilation syndromes; clinical and physiological
evaluation", in California Med., 1959, vol. 91, pp. 121 e s. (citado por
A. Janov).
[13]
C. Tchobroutsky, "Le
premier cri", in La Recherche, nov.
1975, n.°61, pp. 933 e s.
[14] H. Paucot e col., Obstétricie pratique, Le François, 1963, 6.a ed., p.
15.
[15]
Cf. supra e também: J. Emile e
col., "Troubles respiratoires d'origine neurologique", in E.M.C., 1976, 17044 H 10, 9, p, 4.
[16] J.M. Charcot, Leçons du mardi.
Delahaye et Lecrosnier, 1889; H. EY e col., Manuel de psychiatrie, Masson,
1960, pp. 393 e s.
[17] 0 melancólico se beneficiará de um
efeito liberador apenas na medida em que for capaz de respirar sob ordem;
especialmente quando a ansiedade domina a inibição e já está provocando
respiração acelerada ou ruidosa.
[18] Os conhecimentos sobre o assunto são
recentes (1975) e têm sido objeto apenas de observações empíricas, embora elas
pareçam convincentes.
[19] J. Donnars propõe também a utilização do transe a título terapêutico
(Transterpsicore terapia). Os africanos conhecem o valor curativo de tais
procedimentos; para se convencer disso, basta assistir ao filme de Collomb,
N'Doep (Sandoz ed.).
[20] R. Toupotte, Musicothérapie hindoue
Rajneesh, edição mimeografada do Institut Français de Yogathérapie, 24, rue de
la Caussade, Albi (s.d.).
[21] Bagwan propõe ainda outras técnicas,
como a meditação "Mandala", etc. Informações sobre o assunto poderão
ser obtidas de R. Toupotte (nota precedente) ou junto à associação
"Triangle", 25, Av. Pierre 1er de Serbie, 75116
Paris. Estas técnicas são correntemente utilizadas por um psiquiatra sanyas
(Satyana) em um célebre hospital psiquiátrico suíço.