0 "REBIRTH" E OUTRAS TÉCNICAS RESPIRATÓRIAS

CAPITULO XV

Dr Bernard Auriol

 

 



 

 

1. A RESPIRAÇÃO DINÃMICA RELAXANTE

 

A reeducação é um dado clássico na terapia da asma. No entanto, como observa Courchet, os exercícios ensinados pelos cinesioterapeutas freqüentemente são negligenciados ou rapidamente abandonados pelo pa­ciente, de forma que seus efeitos acabam sendo muito pequenos.

Basicamente, procura se obter o que os fisiologistas chamam "venti­lação em modo paradoxal": a expiração torna se um tempo ativo, volun­tário, enquanto que a inspiração é espontânea. Por outro lado, conduz se o paciente a diminuir o máximo possível seu ritmo respiratório[1]. Pode se recorrer a tranqüilizantes com esse objetivo[2]. Obtêm se assim ritmos lentos ou muito lentos (dois ciclos por minuto), construídos da seguinte maneira:

inspiração = um tempo;

parada com os pulmões cheios = dois tempos;

expiração = um tempo;

parada com os pulmões vazios um tempo.

A duração de cada elemento desse ritmo aumenta progressivamente. A diminuição do ritmo tem um efeito calmante, relaxante, e reduz o gasto de energia graças ao decréscimo do "trabalho" ventilatório[3] & [4].

Para favorecer o tempo expiratório (fase relaxada e relaxante) dos asmáticos, Courchet recomenda técnicas próximas a essa (clássica) que acabo de resumir, utilizando elementos extraídos do Pranayama da Ioga (via sofrologia). Ele utiliza como fio condutor, sob forma auditiva, visual, etc., as palavras "Expire" (em francês: "Soufflez"), "Novamente" ("Enco­re"); "Esvazie o ventre" ( “Videz le ventre”); “Novamente” ("Encore"). Tenta obter um condicionamento baseado nas iniciais desse fio condutor: S.E.V.E. (“sève significa "seiva" em francês). Insiste no caráter simbólico dessas iniciais que sugerem renovação, primavera, sol, saúde, vigor, juven­tude; em resumo, sugerem vida! Muito freqüentemente ele utiliza o Trei­namento Autógeno como preparação para sua própria técnica. Em seguida vêm os dois estágios da Respiração Dinâmica Relaxante (R.D.R.). 0 primeiro estágio é baseado na tomada de consciência de todas as sensações e de todos os elementos do corpo que intervêm na respiração em modo paradoxal. 0 segundo estágio consiste em uma espécie de meditação sobre as trocas entre os volumes de ar pulmonar, limitado, e o exterior, ilimitado. Pratica se também um exercício respiratório em ritmo coletivamente sincro­nizado, inspirado na marcha sincrônica da prática Zen (Kinin). Vários elementos convergem para um relaxamento geral: o tom de voz suave, homogêneo, grave, com harmônicos elevados; os exercícios, o ambiente, o aumento de gás carbônico arterial devido às pausas respiratórias, etc. 0 trabalho em grupo contém um aspecto tranqüilizador, e permite trocas verbais após a sessão. Esse método parece ser muito mais eficaz e com resultados incomparavelmente mais estáveis do que a reeducação clássica. Entretanto, não é aplicável em portadores de insuficiências respiratórias devidas a problema cardíaco. Aliás, Courchet prefere desaconselhá lo a indivíduos excessivamente propensos à hiperexpressividade emocional.

 

*****

 

Ao contrário, os alunos de Reich utilizam a hiperpnéia[5] com o objetivo de obter uma livre circulação de energia psicossomática ("orgônio") de acordo com o eixo vertical do corpo. Recomenda se, por exemplo, "respirar sem esforço, ou seja, não fazer exercícios respiratórios". Procura se conseguir (e diversas técnicas auxiliam nisso) a respiração natural, na qual "os ombros ficam relaxados", assim como o abdômen. Reich observa que a "expiração profunda produz espontaneamente a atitude de abandono (se­xual)". Sua retenção é uma das formas neuróticas de controle dos impulsos agressivos e eróticos.

Janov declara utilizar a "respiração profunda para conduzir o paciente para mais perto de seus próprios sentimentos”, mais perto do sofrimento profundo que (nessa teoria) a respiração superficial permitiria guardar repri­mido. Ele fala em "respiração conflitual" para designar o aumento de ventilação que ocorre quando, tendo o paciente pronunciado sons inarticu­lados a partir de sua angústia, esta acaba por ultrapassá lo; ele "é tomado por um resfolegar profundo que tem algo de animal" e acaba por asse­melhar se ao barulho de uma locomotiva. Em seguida exprime se o sofri­mento, e chega se assim ao relaxamento e à “normalidade”(na teoria do autor).

A Bio energia de Lowen utiliza também a respiração profunda e a hiperpnéia para fazer com que as emoções se exprimam, e para detectar e tratar locais contraídos do corpo.

 

Pesquisas psico fisiológicas demonstraram que a hiperventilação tem como efeito[6]:

 

1.      provocar redução da vigilância ou perda de consciência[7];

2.      reduzir a atividade psicomotora (50% em 1/2 h);

3. aumentar a tolerância à dor, e auxiliar a ação dos medicamentos analgésicos;

4.      reduzir a agressividade e a ansiedade;

5.      provocar uma ligeira euforia;

6.      reduzir as sensações provenientes dos órgãos.

 

A nível fisiológico, observa se uma redução do débito sangüíneo cere­bral, um aumento do oxigênio arterial com relação ao oxigênio venoso, uma alcalínização do sangue em conseqüência da redução do gás carbônico[8]. Constata se também um aumento paradoxal de ácido lático e de ácido piruvico no cérebro, o que vem confirmar a hipótese de que há menor oxigenação das células cerebrais quando a hiperventilação é muito grande. Por outro lado o volume do cérebro diminui, devido à redução da quan­tidade de sangue. Está comprovado que as diferentes formas errôneas de respirar são a causa de pacientes ansiosos, deprimidos, neuróticos[9], etc.  0 obsessivo teria tendência a se hipoventilar, enquanto o histérico tenderia à hiperventilação (como o asmático)[10]. Os inadaptados também teriam um ritmo acelerado, enquanto os autistas diminuem a amplitude de respira­ção[11]. 0 fato de obrigar o paciente a expirar totalmente (por um apoio na parte baixa do tórax) acarreta, em uma grande proporção dos casos, um relaxamento emocional acompanhado de choro e da revelação de acontecimentos marcantes do passado[12].

 

2. 0 "REBIRTH"

 

A técnica do "Rebirth", que Sokolov prefere chamar de "técnica do sopro original", em referência ao taoísmo, procura reviver a experiência respiratória do nascimento (os taoístas chegam a falar em respiração em­brionária). Demonstrou se que o feto executa movimentos respiratórios a partir do terceiro mês de gravidez, durante as fases de sono agitado. Trata­se de movimentos muito fracos, devido às resistências do meio aquático (menos de um centímetro cúbico de líquido deslocado em cada ciclo)[13]. Por outro lado, a composição do sangue fetal quanto ao oxigênio é inferior à do recém nascido[14].

Assim como Jacobson obtém o relaxamento muscular depois de ter sido praticada a contração, o "Rebirth" obtém a respiração "natural" depois de ter exigido uma respiração de stress. De fato, trata se de respirar pela parte alta do tórax, muito forte e depressa, preocupando se essencialmente com a inspiração. Deve se manter a boca aberta. Esse tipo de respiração acarreta, em 100% dos indivíduos, uma crise espasmofílica quando uma alcalose muito intensa é obtida no sangue arterial (ocorre então diminuição de cálcio plasmático ionizado, alteração dos fenômenos elétricos ao nível das células devido à fuga de potássio para o exterior, redução da quanti­dade de sangue que chega ao cérebro e redução do volume deste[15]), Observa­se freqüentemente uma queda da tensão arterial e uma aceleração do pulso; podem ocorrer zumbidos ou assobios no ouvido, perturbações visuais, sen­sações de picada, formigamento, câimbras, etc. 0 objetivo da técnica não está, obviamente, nestes fenômenos desagradáveis.

Podem aparecer então diversos fenômenos emocionais de tipo extre­mamente arcaico, como cóleras de bebê, gritos, lágrimas, movimentos de sucção dos lábios, um sono imperioso, estados de maior ou menor estupor, fenômenos alucinatórios, etc. Muitas vezes, pude reconhecer a explosão “primal” tal como a descreve A. Janov, com postura de flexão súbita seguida de um grito indescritível de dor. Alguns indivíduos revivem, notadamente ao nível das sensações da pele e dos músculos, da respiração, dos gritos, o que parece ser um novo “nascimento”, ou melhor, a revivência de seu nascimento. Depois de ultrapassada essa vivência arcaica, deixa se a res­piração encontrar seu ritmo natural. Ela toma características muito parti­culares (lenta, com um som muito suave) e é acompanhada de impressões geralmente intensas de felicidade, alegria, paz, descanso, luz, abolição do tempo, etc. Todos esses são elementos próximos dos estados autógenos avançados ou dos estados místicos.

0 desenrolar de uma sessão coincide às vezes com a descrição da grande crise de histeria descrita por Charcot[16] :

 

- pródromos;

- período epileptóide, comportando uma fase tônica e uma fase clônica;

- período de contorções "grotescas";

- período de transe, com atitudes passionais.

 

Se é verdade, como a experiência faz crer, que a técnica do "Rebirth" é útil e cura determinados distúrbios, seria necessário concluir então que a crise de histeria é uma tentativa espontânea de um organismo em difi­culdades para encontrar sua própria cura.

Cada sessão de "Rebirth" dura entre uma e quatro horas (às vezes mais). São suficientes algumas sessões (umas dez) para obter importantes efeitos terapêuticos sobre certos distúrbios respiratórios, alérgicos, psicofouncionais. Os indivíduos espasmofílicos apresentarão grande melhora, os deprimidos (inclusive os melancólicos[17]), encontram um otimismo e uma animação surpreendentes. No estado atual das observações[18], não é acon­selhável praticar esta técnica em indivíduos que já apresentaram experiên­cias de alucinações ou delírio espontâneo, ou que têm baixa tolerância a tóxicos que provocam tais fenômenos (álcool, maconha, LSD, etc.).

 

3. A MEDITAÇÃO DINÃMICA CAÓTICA DE BAGWAN RAJNEESH

 

Ela consiste em obter certos estados de relaxamento e cessação do pensamento, por meio de uma técnica dividida em várias etapas:

 

  1. cinco minutos de respiração profunda rápida (64 movimentos por minuto);  
  2. quinze minutos de expressão corporal livre sob indução musical com gritos (atinge se aqui uma espécie de transe, em que o corpo parece criar alma e fugir ao controle do espírito; o indivíduo fica, entretanto,  perfeitamente consciente, testemunha de suas evoluções);
  3. cinco minutos de expressão corporal em silêncio;
  4. dez minutos durante os quais as pernas são mobilizadas de forma que o calcanhar toque alternativamente as nádegas e o solo;
  5. quinze minutos de imobilização no mesmo lugar;
  6. quinze minutos de expressão corporal livre.

 

Segundo Bagwan, este método, muito ativo pelo seu processo caótico, libera nossas tensões adquiridas durante séculos de civilização. Ele permite que o ocidental saia de seu personagem sério demais, que o oprime. 0 corpo, arrastado pela música, vive um verdadeiro transe[19]; o círculo de pensamentos pára, e há uma intensa vivência silenciosa do corpo. R. Toupotte demonstrou[20] que essa técnica proporciona um grande bem estar, caracterizado assim pelos participantes (terapeutas em formação): “esque­cimento de tudo, alegria do corpo, tranqüilidade"[21].

Bagwan está se tornando cada vez mais famoso; assim, é provável que nos próximos anos esta técnica alcance ampla divulgação.

 

 

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Psychosonique Yogathérapie Psychanalyse & Psychothérapie Dynamique des groupes Eléments Personnels

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15 Décembre 2002



[1] A aceleração e a diminuição do ritmo são comandadas por diferentes zonas da substância reticulada, da qual Magoun (in Le cerveau éveillé, P.U.F., 1960) mostrou o papel eminente na vigilância e na sonolência, estados que dependem da quantidade de informação não específica e não uniforme por unidade de tempo.

[2] J.M. Dubois de Montreynaud e col., "La méthode de respiration vo­lontairement ralentie sous diazépam", in Vie Médicale, 11 mar. 1975, 3, pp. 983 e s.

[3] P. Drutel, "Etat des recherches en physiologie pulmonaire", in C.M., 1 X 66, 88 40, pp. 5731 e s.

[4] Habitualmente, na respiração há um momento ativo de inspiração, seguido pela evacuação de ar que se faz por si só, graças à elasticidade dos pulmões e do tórax. Isso explica o fato de a fase expiratória ser geralmente mais longa que a fase inspiratória. No final da expiração, atinge se o equilíbrio das pressões entre os pulmões e o meio externo. Os fisiologistas falam de "volume de rela­xamento" (no sentido da mecânica). Vários obstáculos podem se opor à expi­ração espontânea: tensão dos músculos inspiratórios, tensões na passagem do ar (garganta, cordas vocais, brônquios, etc.). Ver P. DEJOURS, "Respiration", in Physiologie de C. Kayser, Flammarion, 1963, t, III.

[5] W. Reich, La fonction de 1'orgasme, L'Arche, 1970, pp. 259 e s.; A. Lowen, Le plaisir, Tchou, 1976 pp. 27 e s.; A. Janov, Le cri primal, Flammarion, 1975,pp 132 e s.

[6] Rheault e col., "Effets de 1'hyperventilation sur le cerveau", in Union Médi­cale du Canada, jul. 1967, t. 96, pp. 887 e s.; S. Semple, "Respiration and the cerebrospinal fluid", in Brit. J. Anaest., 1965, 37 262, jul. 1965.

[7] A hiperventilação de curta duração foi utilizada para induzir a hipnose. Segundo KRESS e RITTER, "Hypnose en thérapeutique psychiatrique", E.M.C., set. 1969, 37820 B 50, t. 5.

[8] M. Christensen e col., "Cerebral apoplexy treated with or without prolon­ged artificial hyperventilation", 2.° art. in Stroke, jul. 1973, vol. 4, pp. 620 631; H. Rosomoff, "Distribution of intracranial contents with controlled hyper­ventilation", Anaesthesiol., set. 1963, 24, pp. 640 e s.; H. Wyama e col., "Effect of hyperventilation on c.r. fluid pressure and brain volume", in Anaesth. Analgesia, 1963, 42, 581; L. Granholm, "Cerebral effects of hyperventilat­ion", in Acta Physiol. Scandinav., 1971, 81, 307.

[9] 0 volume de ar deslocado por cada respiração varia de 1/2 litro a 2 litros. 0 número de respirações por minuto pode ser de dois a vinte e dois (em repouso).

[10] B. Burns e J. Howell, "Disproportionately severe breathlessness in chronic bronchitis", Quarterly J. of Med., jul. 1969, new series XXXVIII, 151, pp. 277-­294; R. Kinsman e col., "Subjective symptoms of acute asthma within a heterogeneous sample of asthmatics", in J. Allergy Clin. Immunol., nov. 1973, vol. 52, 5, pp. 284 e s.

[11] G. Lelord e col., "Introduction à une technique de rééducation de la personne en psychiatrie", in A.M.P., nov. 1970, t. II, 128.° A 4, p. 481.

[12] B. Lewis, "Hyperventilation syndromes; clinical and physiological evaluation", in California Med., 1959, vol. 91, pp. 121 e s. (citado por A. Janov).

[13] C. Tchobroutsky, "Le premier cri", in La Recherche, nov. 1975, n.°61, pp. 933 e s.

[14] H. Paucot e col., Obstétricie pratique, Le François, 1963, 6.a ed., p. 15.

[15] Cf. supra e também: J. Emile e col., "Troubles respiratoires d'origine neu­rologique", in E.M.C., 1976, 17044 H 10, 9, p, 4.

[16] J.M. Charcot, Leçons du mardi. Delahaye et Lecrosnier, 1889; H. EY e col., Manuel de psychiatrie, Masson, 1960, pp. 393 e s.

[17] 0 melancólico se beneficiará de um efeito liberador apenas na medida em que for capaz de respirar sob ordem; especialmente quando a ansiedade domina a inibição e já está provocando respiração acelerada ou ruidosa.

[18] Os conhecimentos sobre o assunto são recentes (1975) e têm sido objeto apenas de observações empíricas, embora elas pareçam convincentes.

[19] J. Donnars propõe também a utilização do transe a título terapêutico (Transterpsicore terapia). Os africanos conhecem o valor curativo de tais procedimen­tos; para se convencer disso, basta assistir ao filme de Collomb, N'Doep (Sandoz ed.).

[20] R. Toupotte, Musicothérapie hindoue Rajneesh, edição mimeografada do Institut Français de Yogathérapie, 24, rue de la Caussade, Albi (s.d.).

[21] Bagwan propõe ainda outras técnicas, como a meditação "Mandala", etc. Infor­mações sobre o assunto poderão ser obtidas de R. Toupotte (nota precedente) ou junto à associação "Triangle", 25, Av. Pierre 1er de Serbie, 75116 Paris. Estas técnicas são correntemente utilizadas por um psiquiatra sanyas (Satyana) em um célebre hospital psiquiátrico suíço.