ACUPUNTURA, AURICULOTERAPIA E HOMEOPATIA

CAPITULO XVI

Dr Bernard Auriol

 

 

 



 

1. ACUPUNTURA

 

Esta técnica, por muito tempo ignorada ou rejeitada como não cien­tífica, conseguiu uma posição de destaque graças à descoberta, na China[1], da analgesia acupuntural (supressão da dor sem fazer o indivíduo ador­mecer). A eficácia é perfeita em sete pessoas sobre dez (tanto ocidentais como também orientais, tanto crentes como céticos, e mesmo em animais: fizeram‑se cesarianas em vacas desta maneira). 0 paciente fica consciente e relaxado, apesar do bisturi e da inquietação prévia. Foi demonstrado que os pontos de acupuntura deixam passar a eletricidade mais facilmente que a pele vizinha. Pode‑se assim localiza-los, graças aos "puntoscópios" ou  “estigmascópios”, de maneira muito precisa. Sénélar mostrou que nesses pontos a pele apresenta uma estrutura histológica especial: adelgaçamento, presença de glomos vasculares, disposição particular das fibras nervosas.

É possível explicar de muitas maneiras a analgesia: como um fenô­meno de competição entre mensagens neurônicas (haveria “engarrafamento” por excesso de informações recebidas em zonas‑chave do sistema nervoso, de tal forma que a mensagem dolorosa não teria, em momento algum, a prioridade). Uma outra explicação possível é bioquímica: o cérebro segre­garia produtos contra a dor, comparáveis à morfina e bastante conhecidos atualmente: encefalinas, endorfina[2] . Devem ser mencionados também efei­tos de tipo "reflexo" que diminuem a sensação de dor, reforçam ou atenuam determinados circuitos neurovegetativos, aumentam o controle do organismo todo sobre zonas funcionalmente ( e parcialmente) isoladas, etc.

Esses fenômenos explicam os efeitos da acupuntura em numerosos campos, inclusive com relação a doenças relativamente graves ou crônicas (seqüelas de poliomielite, úlcera estomacal, leucemia aguda....).

De maneira geral, o reequilibro das "energias" Yin o Yang ocasiona maior harmonia de funcionamento do organismo e provoca melhoras em pacientes com stress ou tensos. Assim, a acupuntura parece ser um excelente meio de favorecer um encaminhamento pessoal para o relaxamento e o funcionamento ótimo do indivíduo.

Os pontos mais especificamente ligados ao relaxamento situam‑se sobre duas linhas: Jenn Mo e Tou Mo.

‑ Jenn Mo é uma linha que se situa na frente do corpo, do meio do queixo até a frente do ânus. A massagem ou a injeção de água destilada sobre esse trajeto permite combater certos estados de ansiedade crônica. 0 mesmo efeito é obtido, e com maior precisão, pela picada ou estimulação elétrica dos pontos Tsiou Oe (meio do apêndice xifóide), Tchong Ting, (junção do apêndice xifóide com o esterno), Traun Tchong (meio do peito), etc.

Um trabalho análogo sobre a linha Tou Mo, que vai da parte de trás do ânus até o lábio superior (passando pela parte posterior do crânio), tem um efeito idêntico sobre tensões nervosas de origens diferentes (fadiga, medo) daquelas tensões situadas na parte da frente (cólera, angústia vigi­lante, desejo frustrado).

· Na angústia, os pulsos estão tensos e contraídos por excesso de ener­gia iang; deve‑se tonificar o yin com a ajuda dos pontos "Lo", que têm a função de reequilibrar as energias (por exemplo, o ponto seis, que comanda o coração, o ponto que comanda Jenn Mo, etc.). Da mesma forma procura­se reestabelecer o equilíbrio de energias entre a parte de cima e a parte de baixo, entre os lados direito e esquerdo do corpo agindo sobre os pontos Lo de grupo (por exemplo, dispersão do ponto seis do meridiano baço­pâncreas). Obtido esse reequilíbrio geral, o doente sente‑se relaxado. As vezes ocorre uma crise de choro.

· Na depressão, os pulsos são fracos e pequenos; trata‑se de um vazio de iang, Serão utilizados diversos pontos de tonificação iang, especialmente o ponto três do coração, chamado “alegria de viver” o três do triplo aquecedor, o ponto que comanda Tou Mo.

· A acupuntura pode agir também em casos de ciclotimia de inten­sidade discreta.

 

2. AURICULOTERAPIA

 

Costuma‑se compará‑la à acupuntura, apesar de algumas diferenças: a nível histórico (é de criação recente), a nível teórico (não se utilizam necessariamente os princípios Yin e Yang e os meridianos), a nível prático (sua aplicação é mais acessível).

Nogier[3] (2) e seus discípulos[4] estabeleceram uma correspondência entre cada órgão do corpo e um ponto particular do pavilhão da orelha. Todo o corpo está assim representado sobre a pele da orelha; o conjunto desses pontos desenha o corpo de maneira inversa; comparou‑se essa "auriculo­topia" com a representação cerebral de nosso organismo. Evoca‑se também a imagem de um feto invertido, cujo conduto auditivo externo seria o cordão umbilical. Encontra‑se uma representação semelhante (embora atual­mente sem aplicação terapêutica direta) na íris do olho: diagnósticos dife­rentes são feitos conforme as variações de textura ou de cor afetem esta ou aquela zona do contorno pupilar[5]. Uma representação desse tipo também pode ser encontrada nas plantas dos pés[6].                                

 

Em auriculoterapia, diagnóstico e tratamento são feitos quase que simultaneamente: um ponto doloroso e tenso no pavilhão é sinal de afecção de tal órgão; picando esse ponto está‑se tratando a doença em questão. A utilização de um detector eletrônico de pontos e de um estimulador aco­plado permite maior precisão e eficácia. Efetuam‑se duas sessões por se­mana, em média. A colocação, por exemplo, de um pequeno agrafo ou de um fio de seda em um ponto preciso do pavilhão da orelha permite obter, em grande número de casos, a desintoxicação física dos opiáceos (drogas “pesadas”) e do tabaco. Existem alguns pontos mais especialmente utili­zados para o relaxamento:

- o ponto M de Nogier (ponto "maravilhoso");

- o ponto da insônia;

‑- o ponto paratireoideano.

Todas as tensões musculares, crônicas ou agudas, podem ceder no ponto específico do local contraído. Assim, pode se agir com objetivos psicotera­pêuticos (como em bio energia) ou com um objetivo mais prosaicamente "médico", nas dores reumáticas do pescoço, das costas, dos rins, das ciáticas (algumas delas), etc.

Considerando se a eficácia e a facilidade de aplicação dessa técnica, é difícil compreender por que tão poucos médicos a utilizam. Todos deve­riam manejá la com facilidade.

 

3. HOMEOPATIA E RELAXAMENTO

 

A homeopatia utiliza produtos em doses mínimas. Pode‑se aproximá­la de todas as técnicas em moda englobadas pelo termo bioterapia (neural­terapia, gemoterapia, aromatoterapia, oligoterapia, etc.).

É muito comum considerar essas práticas como "inofensivas" nos dois sentidos, ou seja: sem eficácia real própria (elas agiriam por "sugestão", como um placebo) e, portanto, sem perigo. Esse ponto de vista não pode ser mantido, devido à existência de trabalhos respeitados pela sua serie­dade[7]. 0 médico homeopatia, diante do organismo com "stress" ou com qualquer outro distúrbio, procura situar o temperamento do paciente e a especificidade de sua doença. Nesse campo praticamente não existem panacéias.

0 diagnóstico de personalidade permitirá prescrever a quem estiver­muito tenso Kali bromatum, Platina, Plumbum, Ignatia, Cuprum metalli­cum, Pulsatilla sepia, Calcarea carbonica, Nux vomica, Lycopodium tuber­culinum, Aurum, Lacheris, Arsenicum album, Natrum muriaticum. Já para o hiperlasso, hipotônico, receita‑se Calcarea fluorica, Fluoric acid, etc.

Pode‑se prever um desenvolvimento importante, embora inesperado (mesmo pelos homeopatas), da utilização psicoterapêutica da homeopatia.

 

 

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Psychosonique Yogathérapie Psychanalyse & Psychothérapie Dynamique des groupes Eléments Personnels

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15 Décembre 2002



[1] Algumas técnicas “avançadas” ou reputadas antigamente como perigosas (a im­plantação de categute em contato com uma rede nervosa, as punções muito pro­fundas, a utilização dos pontos "proibidos") podem ser úteis em certas doenças graves ou crônicas: São utilizadas sobretudo na China Popular. Segundo J. Niboyet, Cours d'acupuncture, Maisonneuve (bibliografia).

[2] Os trabalhos de J. Niboyet, de Chang Hsiang Truy, de Farnarier, em 1975, demonstram que há secreção de uma substância analgésica de ação local específica a um ou vários metâmeros: isso sugere uma mediação por prostaglandinas.

[3] P. Nogier, Traité d'auriculothérapie, Maisonneuve, 1969.

[4] H. Pellin, "Une nouvelle approche de la réflexothérapie, le stigmascope  Principes, méthode d'utilisation et résultats", Com. no 1er Congrès National d'Electrothérapie, Nice, fev. 1972; H. Jarricot, "Somatotopie du pavillon au­riculaire et relations viscéro cutanées", in II.° Congrès International d'acupunture, Paris, 1969; cf. C.R. in Nouvelle Revue Internationale d'Acupuncture, abr. 1970, n.° 16.

[5] G. Jausas, Traité pratique d'iridologie médicale, Dangles, 1947.

[6] 5.  G. Downing e A. Rusch, Le massage euphorique, Hachette, 1973, pp. 162 e s.

[7] Cf. J. Barbancey, Pratique homéopathique en psychopatologie, Ediprim, Lyon, 1977. Excelente obra escrita por um notável clínico, cujo valor pude sentir através de depoimentos de pacientes.