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1. ACUPUNTURA
Esta técnica, por muito tempo ignorada ou rejeitada como
não científica, conseguiu uma
posição de destaque graças à descoberta, na China[1],
da analgesia acupuntural (supressão da dor sem fazer o indivíduo adormecer).
A eficácia é perfeita em sete pessoas sobre dez (tanto ocidentais como também
orientais, tanto crentes como céticos, e mesmo em animais: fizeram‑se cesarianas em vacas desta maneira). 0 paciente fica
consciente e relaxado, apesar do bisturi e da inquietação prévia. Foi demonstrado
que os pontos de acupuntura deixam passar a eletricidade mais facilmente que
a pele vizinha. Pode‑se assim localiza-los, graças aos "puntoscópios"
ou “estigmascópios”, de maneira muito
precisa. Sénélar mostrou que nesses pontos a pele apresenta uma estrutura
histológica especial: adelgaçamento, presença de glomos vasculares, disposição
particular das fibras nervosas.
É possível explicar de muitas maneiras a analgesia: como
um fenômeno de competição entre mensagens neurônicas (haveria “engarrafamento”
por excesso de informações recebidas em zonas‑chave do sistema nervoso,
de tal forma que a mensagem dolorosa não teria, em momento algum, a prioridade).
Uma outra explicação possível é bioquímica: o cérebro segregaria produtos
contra a dor, comparáveis à morfina e bastante conhecidos atualmente: encefalinas,
endorfina[2]
. Devem ser mencionados também efeitos de tipo "reflexo" que diminuem
a sensação de dor, reforçam ou atenuam determinados circuitos neurovegetativos,
aumentam o controle do organismo todo sobre zonas funcionalmente ( e parcialmente)
isoladas, etc.
Esses fenômenos explicam os efeitos da acupuntura em
numerosos campos, inclusive com relação a doenças relativamente graves ou
crônicas (seqüelas de poliomielite, úlcera estomacal, leucemia aguda....).
De maneira geral, o reequilibro das
"energias" Yin o Yang ocasiona maior harmonia de funcionamento do
organismo e provoca melhoras em pacientes com stress ou tensos. Assim, a
acupuntura parece ser um excelente meio de favorecer um encaminhamento pessoal
para o relaxamento e o funcionamento ótimo do indivíduo.
Os pontos mais especificamente ligados ao relaxamento
situam‑se sobre duas linhas: Jenn Mo e Tou Mo.
‑ Jenn Mo é uma linha que se situa na frente do
corpo, do meio do queixo até a frente do ânus. A massagem ou a injeção de
água destilada sobre esse trajeto permite combater certos estados de ansiedade
crônica. 0 mesmo efeito é obtido, e com maior precisão, pela picada ou estimulação
elétrica dos pontos Tsiou Oe (meio do apêndice xifóide), Tchong Ting, (junção
do apêndice xifóide com o esterno), Traun Tchong (meio do peito), etc.
Um trabalho análogo sobre a linha Tou Mo, que vai da
parte de trás do ânus até o lábio superior (passando pela parte posterior do
crânio), tem um efeito idêntico sobre tensões nervosas de origens diferentes
(fadiga, medo) daquelas tensões situadas na parte da frente (cólera, angústia
vigilante, desejo frustrado).
·
Na angústia, os pulsos estão tensos
e contraídos por excesso de energia iang; deve‑se tonificar o yin com
a ajuda dos pontos "Lo", que têm a função de reequilibrar as energias
(por exemplo, o ponto seis, que comanda o coração, o ponto que comanda Jenn
Mo, etc.). Da mesma forma procurase reestabelecer o equilíbrio de energias
entre a parte de cima e a parte de baixo, entre os lados direito e esquerdo
do corpo agindo sobre os pontos Lo de grupo (por exemplo, dispersão do ponto
seis do meridiano baçopâncreas). Obtido esse reequilíbrio geral, o doente
sente‑se relaxado. As vezes ocorre uma crise de choro.
·
Na depressão, os pulsos são fracos
e pequenos; trata‑se de um vazio de iang, Serão utilizados diversos
pontos de tonificação iang, especialmente o ponto três do coração, chamado
“alegria de viver” o três do triplo aquecedor, o ponto que comanda Tou Mo.
·
A acupuntura pode agir também em casos de
ciclotimia de intensidade discreta.
2. AURICULOTERAPIA
Costuma‑se compará‑la à acupuntura, apesar
de algumas diferenças: a nível histórico (é de criação recente), a nível teórico
(não se utilizam necessariamente os princípios Yin e Yang e os meridianos),
a nível prático (sua aplicação é mais acessível).
Nogier[3]
(2) e seus discípulos[4]
estabeleceram uma correspondência entre cada órgão do corpo e um ponto particular do pavilhão da orelha. Todo o corpo está
assim representado sobre a pele da orelha; o conjunto desses pontos desenha
o corpo de maneira inversa; comparou‑se essa "auriculotopia"
com a representação cerebral de nosso organismo. Evoca‑se também a imagem
de um feto invertido, cujo conduto auditivo externo seria o cordão umbilical.
Encontra‑se uma representação semelhante (embora atualmente sem aplicação
terapêutica direta) na íris do olho: diagnósticos diferentes são feitos conforme
as variações de textura ou de cor afetem esta ou aquela zona do contorno pupilar[5]. Uma representação
desse tipo também pode ser encontrada nas plantas dos pés[6].
Em auriculoterapia, diagnóstico e tratamento são feitos quase que simultaneamente: um ponto doloroso e tenso no pavilhão é sinal de afecção de tal órgão; picando esse ponto está‑se tratando a doença em questão. A utilização de um detector eletrônico de pontos e de um estimulador acoplado permite maior precisão e eficácia. Efetuam‑se duas sessões por semana, em média. A colocação, por exemplo, de um pequeno agrafo ou de um fio de seda em um ponto preciso do pavilhão da orelha permite obter, em grande número de casos, a desintoxicação física dos opiáceos (drogas “pesadas”) e do tabaco. Existem alguns pontos mais especialmente utilizados para o relaxamento:
- o ponto M de Nogier (ponto "maravilhoso");
- o ponto da insônia;
‑- o ponto paratireoideano.
Todas as tensões musculares, crônicas ou agudas, podem
ceder no ponto específico do local contraído. Assim, pode se agir com objetivos
psicoterapêuticos (como em bio energia) ou com um objetivo mais
prosaicamente "médico", nas dores reumáticas do pescoço, das costas,
dos rins, das ciáticas (algumas delas), etc.
Considerando se a eficácia e a facilidade de aplicação dessa técnica, é difícil compreender por que tão poucos médicos a utilizam. Todos deveriam manejá la com facilidade.
3. HOMEOPATIA E RELAXAMENTO
A homeopatia utiliza produtos em doses mínimas. Pode‑se
aproximála de todas as técnicas em moda englobadas pelo termo bioterapia
(neuralterapia, gemoterapia, aromatoterapia, oligoterapia, etc.).
É muito comum considerar essas práticas como
"inofensivas" nos dois sentidos, ou seja: sem eficácia real própria
(elas agiriam por "sugestão", como um placebo) e, portanto, sem perigo.
Esse ponto de vista não pode ser
mantido, devido à existência de trabalhos respeitados pela sua seriedade[7].
0 médico homeopatia, diante do organismo com "stress" ou com qualquer
outro distúrbio, procura situar o temperamento do paciente e a especificidade
de sua doença. Nesse campo praticamente não existem panacéias.
0 diagnóstico de personalidade permitirá prescrever a
quem estivermuito tenso Kali bromatum, Platina, Plumbum, Ignatia, Cuprum
metallicum, Pulsatilla sepia, Calcarea carbonica, Nux vomica, Lycopodium
tuberculinum, Aurum, Lacheris, Arsenicum album, Natrum muriaticum. Já para
o hiperlasso, hipotônico, receita‑se Calcarea fluorica, Fluoric acid,
etc.
Pode‑se prever um desenvolvimento importante, embora
inesperado (mesmo pelos homeopatas), da utilização psicoterapêutica da homeopatia.
[1] Algumas técnicas “avançadas” ou reputadas antigamente como perigosas (a implantação de categute em contato com uma rede nervosa, as punções muito profundas, a utilização dos pontos "proibidos") podem ser úteis em certas doenças graves ou crônicas: São utilizadas sobretudo na China Popular. Segundo J. Niboyet, Cours d'acupuncture, Maisonneuve (bibliografia).
[2] Os
trabalhos de J. Niboyet, de Chang Hsiang Truy, de Farnarier, em 1975,
demonstram que há secreção de uma substância analgésica de ação local
específica a um ou vários metâmeros: isso sugere uma mediação por
prostaglandinas.
[3]
P.
Nogier, Traité d'auriculothérapie, Maisonneuve, 1969.
[4] H. Pellin, "Une nouvelle approche de la réflexothérapie, le stigmascope Principes, méthode d'utilisation et résultats", Com. no 1er Congrès National d'Electrothérapie, Nice, fev. 1972; H. Jarricot, "Somatotopie du pavillon auriculaire et relations viscéro cutanées", in II.° Congrès International d'acupunture, Paris, 1969; cf. C.R. in Nouvelle Revue Internationale d'Acupuncture, abr. 1970, n.° 16.
[5] G. Jausas, Traité pratique d'iridologie médicale, Dangles, 1947.
[6] 5. G. Downing e A. Rusch, Le massage euphorique, Hachette, 1973, pp. 162 e s.
[7] Cf. J. Barbancey, Pratique homéopathique en psychopatologie, Ediprim, Lyon, 1977. Excelente obra escrita por um notável clínico, cujo valor pude sentir através de depoimentos de pacientes.